Tite sempre olhou para a França de 2018 como a seleção que ele não gostaria de ter. Não pelo título. O respeito pelo trabalho de Didier Deschamps sempre existiu. A observação é sobre a mudança de estilo da equipe após a derrota na final da Eurocopa de 2016, em Paris, tendo o melhor ataque da competição.
A transformação foi feita para ter marcação com bloco baixo e velocidade no contragolpe, explorando características como a velocidade de Mbappé. A França foi campeã mundial por ser a mais forte, não por ser a mais bela.
Tite não desprezará o título nestas circunstâncias, mas meses depois da derrota para a Bélgica já deixava claro que seu desejo não é vencer o Mundial como os franceses venceram. Ele quer mais.
Muitos críticos não têm reconhecido na seleção brasileira o refinamento tático que ela já possui. Não é favorita para ganhar o Mundial, em dezembro, mas tem repertório e variações de acordo com os jogadores escalados e com as características dos adversários.
O que acontecerá com a seleção daqui até 18 de novembro, data da abertura, é tão incerto quanto notar que o brasileiro de maior prestígio na Europa, neste janeiro, é Vinicius Junior, não Neymar. Pensar em ganhar a Copa exige pensar em recuperar o velho craque e melhorar o jovem talento.
Um dos pecados do Brasil de 2014 foi confiar toda a criação ofensiva a dois meninos de 21 anos —Neymar e Oscar. O envelhecimento precoce, por lesão ou falta de dedicação, de Ronaldinho, Adriano e Kaká, jogou todo o peso sobre Neymar há oito anos. Poderia ser melhor se a transição de uma geração para outra fosse mais natural, como de Romário e Bebeto para Ronaldo e Rivaldo.
Tite pode ter a chance de fazer a transição de Neymar a Vinicius —e a quem mais chegar— e de montar o time de seus sonhos. Taticamente firme, difícil de sofrer gols, como tem sido. Também capaz de estratégias ofensivas surpreendentes, que façam extrapolar as melhores qualidades de seus jogadores mais talentosos.
O Brasil não é favorito, como não foi em nenhuma das cinco Copas vencidas. Mas tem um time com rosto definido, capacidade de fazer a saída com três homens e atacar com cinco, de se defender com linha de quatro e variar o posicionamento, para marcar no ataque, na intermediária ou perto de sua área, para explorar contra-ataques.
Nos próximos dez meses, é preciso olhar atentamente quem pede passagem e quem não se dedica. Puxar a corda para acompanhar os mais decisivos e insistir na recuperação de Neymar, mas sem deixá-lo pensar ser o dono do time, porque o Brasil já ganhou a Copa com Pelé machucado.
Fazer ajustes finos, sem perder de vista o surgimento de alguém que possa transformar os rumos. Como Vinicius Junior tem feito. O Brasil passou duas vezes por períodos de cinco mundiais sem o troféu. Pode acontecer pela terceira vez. Ganhando ou perdendo, é necessário refazer o pacto do futebol do Brasil.
Entender que a seleção só será a melhor do planeta se voltarmos a ser o país do futebol.
Tite pode ajudar. É um bom princípio querer ganhar a Copa do Mundo atacando os rivais. Mesmo que, durante o Mundial, possa ser necessário ter um certo nível de pragmatismo.
Há muitas maneiras de vencer. Tite quer ganhar jogando bem.
COUTINHO
As informações dão conta de que Phillippe Coutinho gostaria de voltar ao Brasil, para ficar mais perto da Copa. Uma coisa não tem necessariamente a ver com a outra. O que Coutinho precisa é voltar a jogar bem, seja no Arsenal, no Barcelona ou no Flamengo.
ALERTA
Casemiro é um dos melhores jogadores brasileiros na Europa, pode ser o capitão do hexa, mas precisa de alerta. O número de cartões que o afastam de jogos importantes é exagerado. Fabinho é o reserva imediato e também excelente jogador.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.