Tite dificilmente vai relacionar para a próxima Copa um jogador que ainda não foi convocado. Se o Mundial fosse hoje ou daqui um mês, qual seria o time titular e quem seriam os 23 chamados? Nem o técnico sabe. Nos últimos anos, Tite experimentou várias opções táticas, mas, se a Copa fosse hoje, escalaria, pelo que o time mostrou nos últimos jogos, a formação tradicional (4-4-2), com uma linha de quatro defensores, dois volantes, dois jogadores abertos, que atacam e defendem, e dois atacantes.
Assim, atuou a seleção inglesa campeã do mundo em 1966. Isso não significa que seja uma maneira ultrapassada de jogar. Talvez ainda seja o esquema tático mais usado em todo o mundo, que pode ser defensivo ou ofensivo. Vai depender de inúmeros outros fatores, principalmente do tipo de marcação, mais recuada, mais adiantada ou intermediária.
Essa formação tática facilita para Neymar, que pode atuar livre, mais perto da área e do centroavante, sem precisar marcar e sem ter de voltar ao próprio campo para armar as jogadas. Após a saída de Neymar do Barcelona para o PSG, ele, na tentativa de ser o centro do time, passou a jogar muito atrás, pelo meio. Isso o prejudica, pois, no longo caminho até o gol, é geralmente desarmado ou derrubado.
Seja qual for o posicionamento de Neymar, penso que ele teve uma queda física nos últimos anos, por causa de seguidas contusões e da diminuição da movimentação e da velocidade. Ficou menos difícil marcá-lo. Tem momentos espetaculares, mas não mantém uma regularidade nem a mesma intensidade de antes. O ideal, para a seleção brasileira, seria que ele tivesse uma preparação especial para o Mundial, mais longa, o que é impossível pelo calendário. Pelé, antes da Copa de 1970, estava bastante desgastado fisicamente, mas se preparou muito e chegou ao Mundial em excepcional forma física e técnica.
Uma dúvida de Tite é como escalar juntos Neymar, Vinícius Júnior e Paquetá. Teria de escalar Paquetá mais recuado, no lugar de Fred, ou mais à frente, ao lado de Neymar.
Não espero que a seleção jogue na Copa um futebol coletivo, com a beleza e a eficiência do Manchester City, mas espero que o time atue com mais intensidade, mais pressão para recuperar a bola, mais troca de passes e mais domínio do jogo e da bola, sem depender tanto de estocadas, de lances isolados, individuais, especialmente de Neymar.
Após quase dois anos de quarentena, estou com saudade de fazer muitas coisas, como viajar, flanar pelo Brasil e pelo mundo. Estou com saudade de estar presente em um Mundial. Estive, fora do Brasil, em cinco edições seguidas, de 1994 a 2010. Estou com saudade de ver, no local, os maiores craques do mundo, a festa nos estádios e nas ruas, de reencontrar com vários jornalistas que admiro e que não vejo há muito tempo.
Feliz ano novo, com todos vacinados, incluindo as crianças.
Transitoriedade
Cuca, festejado e com altíssimo salário, pediu para sair do Atlético ao alegar problemas familiares e, ao mesmo tempo, garantiu ao clube que ele não vai dirigir outra equipe em 2022. Cuca sempre foi um treinador imprevisível, que gosta de trabalhos curtos e de sair após ter sucesso. Há, provavelmente, outras razões, de saúde, emocionais, como as conhecidas esquisitices e superstições do treinador.
Cuca, com sua visão sombria, costuma demonstrar, nas entrevistas, preocupações com as incertezas e com a transitoriedade das coisas, como a de que, após grandes momentos, virão fatos ruins.
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