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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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O país do passado

Brasil continua exportando revelações adolescentes e comprando veteranos

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Luis Suárez foi apresentado na Arena do Grêmio na noite de quarta-feira (4), diante de 26 mil torcedores.

O Grêmio apresenta o uruguaio Luis Suárez em sua Arena, em Porto Alegre (RS) - Diego Vara/Reuters

Há 16 anos, apresentou-se no Beira-Rio, diante de 30 mil espectadores, num empate do Internacional com o Nacional, do Uruguai. A partida classificou o Inter para as oitavas de final da Libertadores que venceria, em 2006.

Luis Suárez era um guri de 19 anos. Um mês depois, um observador do Groningen, da Holanda, visitou Montevidéu para assistir Nacional x Defensor. Em junho daquele ano, Suárez desembarcou no interior da Holanda por € 800 mil.

Mesmo considerando que a contratação gremista chega de graça, sem indenização ao Nacional, seu último clube, o salário de R$ 2 milhões fará com que o Grêmio gaste R$ 52 milhões por dois anos de contrato. Se descobrisse Suárez no Beira-Rio, 16 anos atrás, gastaria R$ 4,6 milhões para tirá-lo de Montevidéu.

O salário seria uma pechincha.

O debate não é se Suárez vale ou não vale, mas por que razão o Brasil continua exportando suas maiores revelações na adolescência e comprando veteranos, que nem sempre voltam com o compromisso —ou com a condição física— para atuar no nível em que se consagraram.

Luis Suárez vem e Endrick vai

Verdade que o adolescente palmeirense jogará um ano e meio no Brasil antes de se transferir para o Real Madrid, onde aprenderá a ser um jogador global. Repetiremos, com espanto, como seu desenvolvimento físico e tático impressionam, sem perceber que isso acontece lá porque os times daqui não cobram o compromisso com a profissão que se cobra lá.

Endrick no jogo Palmeiras x América-MG, no Allianz Parque, em São Paulo - Miguel Schincariol - 9.nov.22/AFP

Nossa ausência em quatro das últimas cinco semifinais não é causada pela falta de talento, mas pela maneira como eles se desenvolvem. Nenhum país da Europa teve jogadores escalados em todas as finais de Champions League do século 21. O Brasil teve. A Argentina não.

No entanto, os argentinos montaram um time à imagem e semelhança de Messi e conquistaram a Copa depois de 36 anos —e já vamos para 24 de fila. Algumas das estrelas do Brasileiro 2023 serão Arturo Vidal e Luis Suárez, estrelas do Chile e do Uruguai na Copa de 2010. Os possíveis astros no Mundial da América do Norte, daqui a três anos, são Vinicius Júnior, Rodrygo, Enzo Fernández, Julián Álvarez, todos na casa dos 22 anos, invariavelmente em times da Europa.

Revelação da Copa do Mundo, no Qatar, Enzo Fernández jogou pelo Defensa y Justicia contra o Palmeiras, pela Recopa Sul-Americana de 2021, pelo River Plate contra o Atlético-MG, pela Libertadores do mesmo ano, e contra o Fortaleza, no ano passado.

Enzo Fernandez festeja gol na final da Copa-22, contra a França - Molly Darlington - 18.dez.22/Reuters

Você viu?

O Benfica sim.

Em junho de 2022, pagou € 10 milhões (R$ 57 milhões) ao River Plate por 75% do contrato. O Chelsea cogita pagar € 120 milhões (R$ 675 milhões) ao Benfica. Se o valor for confirmado, será a quinta maior transferência da história.

Se o Brasil perde do Benfica, vai ganhar de quem?

Não se trata de culpar a falta de visão, porque muita gente percebeu o talento e soube que o River pretendia negociar com a Europa. Trata-se de entender que a única forma de este velho país do futebol voltar a ser protagonista em disputas futebolísticas, tanto de clubes quanto de seleções, é olhar para o que se faz no mundo e trabalhar para fazer igual ou melhor aqui.

Não se trata de importar, mas de compreender e adaptar à nossa realidade.

O Brasil não tem de alimentar o futebol do planeta. Tem de se alimentar de conhecimento e exportar a sabedoria sobre o jogo lúdico pelo qual todos nós nos apaixonamos.

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