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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Parar o cronômetro é uma agressão ao espírito do jogo

É claro que a bola tem de andar mais e esta é a missão do árbitro

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Um velho amigo odeia amar o futebol. Diz que gosta de tudo, mas quer mudar todas as regras. Podia ter só dez jogadores, lateral com o pé, quem sabe uma cesta de cada lado, uma rede no meio? Durante anos, dizia-se que a regra do futebol era perfeita e o mérito era todo mundo conhecer.

Isto fez o esporte mais popular do planeta.

Há pelo menos dez anos, todo ano muda uma regrinha. Tem de consultar um advogado cada vez que a bola toca na mão de alguém dentro da área. O VAR é um avanço. Mas precisava ficar olhando a mão na orelha do árbitro por quatro minutos?

João Saldanha morreu dizendo que a maior revolução do futebol recente foi em 1925, quando a regra do impedimento passou a punir quem não tivesse dois, em vez de três defensores entre si e a linha de fundo.

O sistema de jogo WM nasceu assim.

Final da Copa do Mundo entre Argentina e França
Final da Copa do Mundo entre Argentina e França - Kai Pfaffenbach - 18.dez.22/Reuters

Depois, o impedimento deixou de punir quem estivesse na mesma linha – até 1990 isso era impedido. A grande alteração foi proibir os goleiros de recolher com as mãos as bolas recuadas, em 1992. Johan Cruyff fazia seus arqueiros Stanley Menzo, no Ajax, e Carles Busquets, no Barcelona – o pai do volante Busquets – a jogarem com os pés.

Mas foi contra a alteração da regra. Talvez quisesse ter o privilégio de entender sozinho como o esporte se transformaria.

Corro o risco de Cruyff, de não ser compreendido daqui a trinta anos. Parar o cronômetro é uma agressão ao espírito do jogo. É como tirar o sofá da sala, depois de pegar seu companheiro em cima dele com outro parceiro.

É claro que a bola tem de andar mais e esta é a missão do árbitro. Toda mudança de regulamento recente tem a intenção de facilitar a vida de quem escolheu uma profissão difícil, arbitrar futebol. Ora, se o jogador retarda a partida, cartão amarelo. Se atrasa de novo, vermelho.

Não é culpa da bola, nem da mão, que o árbitro não consiga interpretar o que é pênalti e o que não é. A Fifa chegou a determinar que gol de mão não vale nunca, porque a bola bateu no braço de Neymar na final da Champions League de 2015 e o gol anulado deveria ter sido validado.

A Fifa ajudou o árbitro e permitiu que ele não interpretasse mais. Tocou na mão numa ação ofensiva que resultou em gol, anula-se. Então, Lewandowski deixou Pavard em condição de marcar o gol do título mundial contra o Tigres, em 2021, e o árbitro validou. Proteja-se o senhor juiz. O penúltimo toque com a mão voltou a valer, desde que involuntário.

Ops...

A tentativa de acabar com o impedimento milimétrico é boa. A Inglaterra já ensinou a privilegiar o ataque nos lances mínimos. Por outro lado, Arsene Wenger quer enganar quem, quando diz que se houver uma parte do corpo na mesma linha, a jogada deve prosseguir. Por mais que seja o inverso de hoje, em que uma parte à frente suprime o gol, vai ser milimétrico do mesmo jeito.

Ah, o calcanhar está na mesma linha da última unha do zagueiro, então a jogada vale...

Diferente de hoje, em que quem não cortou a unha está impedido.

O futebol nasceu do espírito esportivo. Não havia arbitragem e os capitães desentendiam-se. Nasceu o árbitro e sua mãe passou a ser ofendida. Criou-se o VAR e ninguém sabe quem é seu pai, só se sabe que não pode ser honesto.

Mario Filho escreveu a crônica "Fla-Flu da Lagoa" citando que tudo se passou "no tempo do cronometrista." Diz que

o Fluminense empatava por 2 x 2 na Gávea, placar que lhe dava o título de 1941. Queria atrasar o jogo e chutava bolas para a Lagoa Rodrigo de Freitas. O Flamengo atirava legiões de remadores para recuperar a bola o mais rapidamente possível.

Ué? O cronometrista não parava o relógio?

Devia ser incompetente como os árbitros de hoje.

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