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Jornalista e autor de "Escola Brasileira de Futebol". Cobriu sete Copas e nove finais de Champions.

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Homenagem ao malandro, que foi o maior técnico do Brasil

Impossível saber se Luxemburgo fará grande trabalho; o tempo passou e o Corinthians não ajuda

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A manchete do caderno Esporte da Folha de 30 de dezembro de 2004 mostrava como nós, jornalistas, adoramos duvidar do novo-velho técnico do Corinthians: "Luxemburgo deixa o Santos e diz que vai assumir o Real Madrid".

Como assim "diz"?

Capa do caderno Esporte em 30.dez.04
Capa do caderno Esporte em 30.dez.04 - Reprodução


No dia seguinte, a Primeira Página da Folha confirmava a contratação e mantinha o espanto: "Luxemburgo vira galáctico!".

Detalhe da Primeira Página da Folha em 31.dez.04
Detalhe da Primeira Página da Folha de 31.dez.04 - Reprodução

Foi espantoso, não porque alguém julgasse que não tinha competência para trabalhar na Europa. Apenas porque já assumíamos nosso papel na periferia do futebol.

Duvidamos de Luxemburgo desde a queda da seleção brasileira. "Nunca provaram nada contra mim."

Não é bem assim. Descobriu-se, por exemplo, que sua data de nascimento real é 10 de maio de 1952, não de 1955, como se imaginava quando ele saiu dos juvenis para ser lateral-esquerdo profissional do Flamengo.

A data real faz de Luxemburgo o mais idoso treinador da história corintiana. Um mérito.

Vicente Feola, Aymoré Moreira e Telê Santana não foram tão longevos. Zagallo e Felipão, sim. Parreira, só como coordenador.

É justo dizer que Luxemburgo é um dos maiores técnicos da história do Brasil. É recordista de títulos brasileiros, empatado com Lula, do Santos (5), e maior vencedor de Campeonatos Paulistas (9).

O episódio do Real Madrid mostra como ele foi bom.

Mesmo sabendo que a sua contratação pela equipe espanhola passou por um bom trabalho do escritório do empresário Juan Figer, convenhamos que ter um brasileiro no banco mais estrelado da Europa era uma situação bem diferente da que se vê hoje, em que metade dos times do Brasileiro está com um treinador estrangeiro.

Quem aqui escreve que Vanderlei foi um dos maiores do país é quem foi pioneiro em afirmar que já não era o melhor. No dia 4 de setembro de 2007, dois dias depois de o Corinthians, do novato Zé Augusto, vencer o Santos, de um silencioso Luxemburgo, a Prancheta do PVC escreveu no diário LANCE! que era o ex-melhor do Brasil.

No mesmo dia, sua assessoria convocou uma coletiva. Triste, Luxemburgo afirmou: "Hoje fui chamado de ex-técnico". Não foi. O texto dizia "ex-melhor".

Página do caderno Esporte de 3.set.07
Página do caderno Esporte de 3.set.07, um dia após a partida Corinthians 2 x 0 Santos - Reprodução

Reconhecia que, por mais de dez anos, foi unanimemente o principal técnico do país. Sem concorrência, como confirmam os depoimentos de dez entre dez jogadores que atuaram sob seu comando, incluindo inimigos declarados, como Marcelinho e Edmundo.

Cafu trabalhou com Carlo Ancelotti, no Milan. Afirma que Luxemburgo foi, no ápice, melhor do que o técnico do Real Madrid e do que Telê.

Por que deixou de ser?

Quando voltou do Real Madrid, sem título, mas com mais pontos do que o Barcelona no ano de 2005, assumiu o Santos, com Léo Lima e Geílson. Ganhou o Paulista, superando o São Paulo, campeão mundial, e o Corinthians, vencedor do Brasileiro anterior com Tevez, Nilmar, Roger e Carlos Alberto.

Logo depois, o Brasil fracassou na Copa de 2006. Luxemburgo pode ter pensado que teria chance de retornar à seleção. A CBF anunciou Dunga, que nunca tinha sido treinador.

É possível que, naquele dia, Luxemburgo tenha decidido gostar mais de pôquer do que de treinar jogadores de futebol.

Nunca mais ganhou um título nacional ou internacional.

Mas fez coisas boas, como revelar Gabriel Menino, Patrick de Paula e Danilo e ganhar o Paulista num clássico contra o Corinthians. "O melhor dos três é Danilo", dizia convicto, em 2020. Bingo!

Impossível saber se Luxemburgo terá um sopro, um novo grande trabalho. É possível que não, porque o tempo passou. Também porque o Corinthians não ajuda.

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