Um dos maiores espantos do técnico Luís Castro, ao chegar ao Brasil, foi perceber que público e imprensa não sabiam quem era Tiquinho Soares. Das grandes temporadas realizadas em Portugal, uma delas é recente. Em 2018/19, foi o goleador do Porto. É o melhor jogador do Botafogo, líder e sensação do Brasileiro, que derrubou a invencibilidade de 31 jogos do Palmeiras no Allianz Parque.
Ainda que a jogada do gol da vitória tenha tido a sorte de a bola cortada por Gustavo Gómez bater na nuca de Raphael Veiga, antes de sobrar para Tiquinho, o atacante mostrou talento do posicionamento à finalização.
O Palmeiras não jogou mal, o que aumenta o valor do triunfo alvinegro. Luís Castro já desabafou sobre o menosprezo às chances do Botafogo, antes de o Brasileiro começar. Havia razões para isso. A campanha do estadual, sem nem sequer se classificar para as semifinais, impedia pensar que o time pudesse fazer a trajetória atual.
Luís Castro monta o time quase sempre com duas linhas de quatro e o meia Eduardo como segundo atacante, na mesma faixa de campo de Tiquinho. Contra o Palmeiras, além de jogar à frente, marcava a saída de jogo de Richard Rios.
Velocidade pelos lados, com Júnior Santos e Victor Sá, que também têm disciplina para bloquear os espaços para os laterais rivais. Mesmo jogando com um quinto homem na linha de frente, Piquerez, o Palmeiras teve enorme dificuldade para furar o bloqueio defensivo do alvinegro.
A única explicação para o bom momento do Botafogo é o trabalho. Hoje, o campeonato tem a média de uma troca de técnico por rodada, comum, e o inédito número de seis clubes com técnicos há pelo menos um ano no cargo: América, Botafogo, Fluminense, Fortaleza, Internacional e Palmeiras.
De todos, só o América sofre na parte de baixo da tabela.
A receita não é pronta, ou o Palmeiras não sofreria duas derrotas consecutivas, pela segunda vez no ano. Em abril, perdeu para Água Santa e Bolívar na semana anterior ao título estadual.
Em tese, se houvesse dez ou doze clubes com trabalho longo, o nível técnico do campeonato seria maior.
Nem o Palmeiras está fora da disputa pelo título, apesar dos oito pontos de desvantagem. Nem o Botafogo é favorito ao troféu, apesar da liderança e da terceira melhor campanha dos pontos corridos a esta altura.
Importante é notar que há vida entre os times distantes dos mais poderosos financeiramente. Como o Brasil não pode contratar os melhores do planeta e sua elite técnica não tem vaga nos melhores da Europa, equipes organizadas fazem muita diferença.
As descansadas, também.
É provável que o atual estágio do Palmeiras passe pelo acúmulo de jogos e de ser conhecida sua maneira de jogar. O Botafogo sabe construir o jogo, quando precisa, e responder em contra-ataques, quando necessário. Quase marcou seu segundo gol num contra golpe extremamente bem feito e finalizado rente à trave por Victor Sá.
Hoje, o Brasileiro tem o Botafogo líder e o Grêmio vice-líder. O primeiro colocado ganhou a Série B há duas temporadas, os gremistas voltaram do inferno apenas neste ano. Ainda que seja possível acreditar nas reações de Palmeiras e Flamengo, este momento mostra que respeito é bom. Como diz Luís Castro, aqui não há vencedor de véspera.
SÃO PAULO IGUAL
Não é surpreendente que Dorival Júnior tenha exatamente os mesmos números em 17 partidas que Rogério Ceni possuía. Não é uma disputa de treinadores, mas montagem de equipe. No Morumbi, entende-se que o ambiente está melhor. Os jogadores são os mesmos. Exige-se paciência botafoguense.
MELHOR CORINTHIANS
Mesmo que Luxemburgo veja evolução no Corinthians fora de casa, ela é insuficiente. Está claro que se precisará da mesma complacência que se espera no Morumbi. Só que o Corinthians disputa as últimas colocações. O Athletico-PR mandou no jogo no primeiro tempo. O equilíbrio não resolveu no segundo.
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