Ranier Bragon

Repórter especial em Brasília, está na Folha desde 1998. Foi correspondente em Belo Horizonte e São Luís e editor-adjunto de Poder.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ranier Bragon

Salomões de botequim

Há coisas que não permitem caminho ao centro, mas uma enfática tomada de posição

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Cresce no Brasil o discurso fantasioso em defesa de um centro político ponderado, sereno, conciliador, como forma de aplacar a terrível polarização ideológica entre direita e esquerda.

Entrevistas, artigos e debates pululam aqui e ali em apelo à temperança na vida pública. Tudo muito lindo, salvo alguns inconvenientes.

O primeiro é que a ideia se estrutura sobre uma premissa falsa. Bolsonarismo e petismo são adversários políticos, não polos no campo ideológico tendo ao centro o tal espaço a ser ocupado pelos salomões de botequim. O bolsonarismo de sinal trocado pressupõe um movimento igualmente autoritário, mas estatizante, antirreligioso, operário, socializante. O PT tem muitos integrantes que pensam assim, mas, a não ser na idiotia olavista, não há notícia de que tenha patrocinado uma experiência bolchevique de 2003 a 2016. 

Mesmo que a premissa fosse verdadeira, a cantilena conciliatória embute condescendência com o inaceitável. É uma analogia para lá de surrada, deve já haver leis que a proíbam, mas como não lembrar do receituário Chamberlain-Halifax para lidar com Adolf Hitler?

Há certo tipo de coisa que não permite caminho ao centro, mas, sim, uma enfática tomada de posição. Qual será o ponto de convergência para a defesa da ditadura, por exemplo? Fechar a Câmara ou o Senado? Para que duas casas legislativas, não é mesmo? E para a tortura? Espancamento humanizado? Homofobia pode ter um meio termo? Pastor pode disseminar ódio aos gays em nome da liberdade religiosa?

Outra característica do movimento coluna do meio é a extensa fauna e flora de velhos políticos que tenta se vestir de cordeirinho de centro como forma de sobrevivência política. 

Muito mais do que um centro, de um emcimadomurismo, o país precisa é de um norte. E, qualquer que seja ele, com coragem para combater de forma incondicional ideias e ações antidemocráticas, anti-humanistas e obscurantistas.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.