Raquel Landim

Jornalista especializada em economia, é autora de ‘Why Not’, sobre delação dos irmãos Batista e a história da JBS.

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Raquel Landim
Descrição de chapéu Balanços

Congresso não está nem aí para suposta ameaça do PT sugerida por Bolsonaro

Investidores desconsideram as declarações dos membros do governo, com exceção de Guedes

- Eduardo Bolsonaro, deputado e filho do presidente eleito, em 28 de novembro: “governo talvez não consiga aprovar reforma da Previdência”.

- Onyx Lorenzoni, futuro ministro da Casa Civil, em 3 de dezembro: “reforma da Previdência não sairá do papel necessariamente em 2019”.

- Jair Bolsonaro, presidente eleito, em 5 de dezembro: “reforma da Previdência começará a ser votada no primeiro semestre de 2019”.

As frases acima são apenas alguns exemplos das inúmeras declarações desencontradas de futuros ministros, do presidente eleito e sua família sobre a reforma da Previdência, o maior desafio do novo governo.

Em outros tempos, esse tipo de turbulência seria suficiente para balançar os preços das ações e do câmbio, mas agora são ignorados solenemente.

Segundo pessoas que acompanham o pulso do mercado de perto, os investidores decidiram desconsiderar as declarações dos demais membros do governo, com exceção de Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia.

Isso porque já ficou claro que ninguém da área política da próxima administração, incluindo o próprio presidente eleito, entende nada sobre o assunto. 

A ignorância de Bolsonaro sobre economia ficou clara mais uma vez nos últimos dias quando ele disse que pretende elevar a idade mínima de aposentadoria dos brasileiros em pelo menos dois anos.

Detalhe: não existe idade mínima de aposentadoria no Brasil —nem no INSS e nem entre os servidores públicos. Esse é exatamente um dos principais problemas do sistema.

Para analistas, o que pensa Bolsonaro sobre a reforma só passará a ter alguma importância depois que a proposta estiver redonda.

É neste momento que o presidente deve aplicar o seu filtro sobre o assunto, com base em suas crenças – que são estatizantes, já que ele sempre votou contra a reforma —e na viabilidade de aprovação.

Ainda assim, os investidores acreditam que o poder de convencimento de Guedes sobre Bolsonaro será grande.

O problema realmente vai começar quando a reforma for para o Congresso, já que a articulação política do novo governo, por enquanto, é muito ruim.

O presidente eleito deu os primeiros passos para tentar mudar essa situação ao chamar as bancadas dos partidos para conversar. No entanto, seus argumentos ainda são fracos.

Segundo reportagem publicada nesta Folha, Bolsonaro teria dito a deputados que um eventual fracasso em aprovar a reforma significaria a volta do PT ao poder.

Desconfio que deputados e senadores não estão nem aí para essa suposta ameaça petista. Se quiser convencer o Congresso, o presidente e sua equipe terão que fazer melhor do que isso. A reforma da Previdência deveria ser aprovada, porque, caso contrário, o país quebra.

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