A primeira-dama Michelle Bolsonaro esteve reunida por mais de cinco horas com lideranças femininas da comunidade de imigrantes venezuelanos do Distrito Federal, na tarde desta segunda-feira (17).
O grupo de mulheres e mães moradoras de São Sebastião, na periferia de Brasília, aceitou participar da reunião para falar em nome de todas as famílias que se sentiram ofendidas pela fala do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que garotas de 14, 15 anos da comunidade estariam "ganhando a vida", alusão explícita à exploração sexual, em razão de serem refugiadas no Brasil.
O encontro intermediado por representantes da Embaixada da Venezuela foi aceito com a promessa de um pedido formal de desculpas do presidente.
O grupo se reuniu com a primeira-dama com o desejo de uma retratação pública, segundo representantes de organizações de proteção à infância que acompanham o caso.
"As falas e expressões do presidente da República que circularam nestes últimos dias causaram grande preocupação e afetaram pessoas, principalmente mulheres e adolescentes, assim como a própria comunidade venezuelana", afirma irmã Rosita Milesi, diretora do Instituto Migrações e Direitos Humanos, que atua junto aos migrantes e refugiados venezuelanos do DF.
"Além disso, estigmatizam a população venezuelana e contribuem para a construção de estereótipos falsos sobre migrantes e refugiados que escolhem o Brasil como destino para reconstruir suas vidas e contribuir com o país que os acolheu", acrescenta a religiosa.
As famílias da comunidade se sente amedrontadas diante da repercussão do caso em plena campanha de segundo turno das eleições presidenciais. Elas contam com suporte de defensores públicos que as orientam para que não sejam expostas a situações perigosas ou ofensivas em razão do momento político.
Irmã Rosita esclarece que as famílias residentes em São Sebastião estão em situação regular no Brasil, e contam com o suporte da entidade para, logo em sua chegada, providenciar a documentação para que possam viver e trabalhar regularmente no país.
Muitas estão com autorização de residência, enquanto outras ainda permanecem na condição de refugiadas. "São pessoas esforçadas, trabalhadoras, dedicando seus melhores esforços para ganhar dignamente o sustento próprio e da família", afirma a religiosa.
"Nunca identificamos indícios de redes de prostituição ou de exploração sexual infantil envolvendo estas pessoas que, além dos esforços para sustentar-se, prover o sustento da própria família, dedicam-se generosamente à organização de atividades de apoio e de autoestima de seus compatriotas no Distrito Federal."
As garotas citadas genericamente pelo presidente não teriam sido identificadas nominalmente no encontro, uma vez que na data havia um grupo grande de adolescentes participando de uma ação social na comunidade, que é bastante ativa.
No final da manhã, as líderes da comunidade chegaram ao escritório do advogado da senadora eleita Damares Alves (Republicanos-DF), no Lago Sul, região nobre de Brasília. Ficaram reunidas até por volta das 17h com a primeira-dama e também com a ex-ministra.
Neste domingo (16), a Comissão de Direito Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal entrou com representação junto à Defensoria da Infância e Adolescência para garantir medida protetiva para as adolescentes venezuelanas e seus familiares.
"Nossa preocupação é com a integridade física da família de refugiados, dada a precarização da situação dela no país", afirma o deputado distrital Fábio Félix (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos.
No primeiro debate do segundo turno das eleições, promovido por Folha, UOL, TV Band e TV Cultura, o presidente negou se tratar de pedofilia sua fala ao podcast rubro-negro no dia 14.
"Parei a moto numa esquina, tirei o capacete e olhei umas menininhas, três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas num sábado, numa comunidade. E vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei, 'posso entrar na tua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, [num] sábado de manhã, se arrumando —todas venezuelanas", disse Bolsonaro.
E concluiu: "Eu pergunto: meninas bonitinhas, 14, 15 anos se arrumando num sábado para quê? Ganhar a vida. Você quer isso para a tua filha, que está nos ouvindo aqui agora? E como chegou neste ponto? Escolhas erradas".
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