Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Reinaldo Azevedo

Democratas nas ruas e golpistas na cadeia. Com responsabilidade fiscal, é claro!

"O primeiro passo é tomar conta do espaço", o real e o virtual

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Temos de escolher, cada um em sua área de atuação e junto aos grupos com os quais fala, que tipo de paz queremos e também de nos indagar se ela é mesmo um valor universal. Não deve sê-lo, por exemplo, para os criminosos que promovem bloqueios nas estradas em defesa de golpe de Estado ou se concentram em frente a quartéis pedindo intervenção federal contra o resultado das urnas. De novo: que tipo de paz queremos? A dos fortes ou a dos acuados diante daqueles que querem nos destruir?

"Quem é esse ‘nós’ de seu texto, Reinaldo?" Os que defendem o regime de liberdades, segundo os fundamentos consagrados não pela vertente leninista, mas ditados pelo pressuposto das democracias liberais. Em algum momento, o liberalismo se estiolou num administrativismo preguiçoso, na certeza de que, ao fim, sempre vence as batalhas porque tem os melhores valores. Ainda que assim fosse (e não é), eu poderia apelar ao futebol e dizer que nem sempre vence o melhor. Até o enxadrista mais competente pode ser driblado por uma tramoia dos neurônios.

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Trecho de rodovia interditado por manifestantes golpistas em Guaramirim (SC) - Divulgação/Polícia Rodoviária

Ocorre que as forças de desestabilização da democracia não são ditadas por um lance fortuito que leva um zagueiro grosseirão a acertar um chute e a vencer a partida para o pior time. Nem decorrem de uma sinapse pelo avesso que faz o jogador mais competente mover o cavalo para a casa errada. As ações são concertadas e ricamente financiadas. Têm método. E isso a que chamam de "antiglobalismo" —senha que reúne grupos fascistoides mundo afora— é, como se sabe, global.

Eu esperei —e esperei em vão, embora desconfiasse que assim seria— os editoriais flamejantes e trovejantes dos grandes veículos de comunicação contra a sordidez de Jair Bolsonaro a estimular, e não apenas pelo silêncio, também pelas palavras, as ações golpistas que se seguiram ao resultado das urnas. Não vieram com a força necessária. A reação foi quase burocrática.

Imagino as metáforas borrascosas a que estaríamos expostos se Lula tivesse sugerido que os vitoriosos fossem desmanchar as barricadas da impostura, como fizeram a Gaviões da Fiel e a Galoucura. Os coxinhas da reação, como vimos, sujaram as roupas íntimas diante de um povo que lhes parecia estrangeiro. E é claro que o presidente eleito fez muito bem em deixar que o Estado legal, ainda que eivado pelo ilegalismo, se encarregasse, e muito mal, da questão.

Ser reverente ao estado de direito não pode se confundir com omissão diante da "vanguarda do não", que avança contra as conquistas civilizatórias. Escrevi aqui e disse em todo canto que a vitória de Lula é, em grande parte, um milagre de sua biografia. Todas as circunstâncias conspiravam contra ele, e todos os crimes foram cometidos pelo atual governo para evitá-la. O petista ganhou no olho eletrônico. Não porque há fraude, como vocifera a canalha, mas justamente porque não há. Bolsonaro sabia muito bem o que queria quando pedia, sob ameaça de golpe, o voto impresso. Ou haveria alguma dificuldade para a máquina criminosa que tomou conta do Estado arrancar, com o bico da caneta, um ponto percentual?

Notaram como certo colunismo diz a Lula que a única saída é se vergar àquilo que foi derrotado nas urnas? Bom coroa liberal que sou, espero do eleito o compromisso máximo —e possível— com a responsabilidade fiscal. Mas cobro a democracia mobilizadora. "O primeiro passo é tomar conta do espaço", escreveu um gênio da raça. E isso vale para as praças reais e virtuais. E emendou outro: "Se o poeta é o que sonha o que vai ser real, vou sonhar coisas boas que o homem faz". Ou avança a vanguarda do "sim" à democracia, ou avança a do "não". Cobro praças, ruas e responsabilidade fiscal.

E cobro também que os golpistas paguem por suas escolhas. A democracia é o regime em que nem tudo pode. Não preciso lembrar aqui o que faz um corvo com os nossos olhos se o alimentamos a omissões. Será que vamos ter de nos haver de novo com o biltre homicida em 2026? Não haverá uma segunda chance. Ou se aplica a lei, ou ficaremos a ouvir o corvo a mangar o seu "nevermore", como naquele poema.

Democratas nas ruas e golpistas na cadeia. Tudo com responsabilidade fiscal, é claro! A possível.

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