Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Reinaldo Azevedo
Descrição de chapéu colunas eternas

Lula contraria predições enfezadas e divide o poder com os aliados

Sai a arruaça de colisão do bolsonarismo; volta o presidencialismo de coalizão

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Pronto! Lula indicou os 37 ministros. Talvez haja alguma pacificação "Duzmercáduz", sei lá. Ou o contrário. Não tenho intimidade com essa gangorra e enforcaria o último especulador com a tripa metafórica do último experto (com "x") que tortura os fatos para que caibam em suas apostas. Os olhares analíticos têm lá seus respectivos vieses. O meu é reconstruir o tecido institucional esgarçado e resgatar entes de Estado, como as Forças Armadas, das trevas da fascistização. Nesta quinta, mais uma vez, vimos o Exército servir como "supernanny" de golpistas.

Eis, pois, o meu lado nessa história. "Com responsabilidade fiscal ou sem, Reinaldo?" Ah, com ela! Mas não confundo as minhas próprias contas ou as dos meus amigos e fontes (e seus inevitáveis interesses) com o Evangelho Revelado. Já nem cito o pressuposto, sendo pressuposto, da responsabilidade social. Acrescento aos dois pilares um terceiro: a responsabilidade política.

Lula durante anúncio de ministros de seu governo, em Brasília - Evaristo Sa/AFP

Não se cumpriu uma das predições dos anjos do Armagedon. Os que andaram fazendo "dumping" do caos asseguravam que o PT voltava ao poder com um apetite de Pantagruel e uma sem-cerimônia de Gargântua ao exibir seus dotes de colonizador do Estado. Pois é... O partido ficará com dez pastas apenas. Terá a Fazenda e a Casa Civil —eixos da política econômica e da articulação com o Congresso—, além de Educação e Desenvolvimento Social, pastas fundamentais, sim, para estruturar ações para os pobres. No mais, petistas assumirão funções ligadas ao assessoramento pessoal do presidente e com áreas que têm mais demandas do que verbas.

Acompanhei, com alguma estupefação, o tom de escândalo que se tentou emprestar à indicação de Fernando Haddad para a Fazenda. Houve quem se indignasse com o fato de ele ser próximo de Lula. Que coisa! Simone Tebet (MDB) no Planejamento pacifica um pouco os inquietos. É escolha que eu não faria, noto. E não porque lhe faltem qualidades, mas porque lhe sobram justas ambições. Há o risco da massa negativa: a soma que diminui. Torço para que assim não seja. A "desfascistização" dispensa ruídos dessa natureza.

Lula conseguiu trocar no ar algumas peças de um avião escangalhado, conduzido por um porra-louca que se esforçava para derrubar a aeronave, ainda que todos, incluindo ele próprio, morressem. É escorpião de fábula. A aprovação da PEC da Responsabilidade Orçamentária foi uma precondição para estruturar uma base de apoio, esforço que teve de passar pelo Congresso que aí está e mirar o próximo, ainda mais povoado de, digamos, exotismos morais, éticos e ideológicos.

Nove partidos ocuparão a Esplanada. No papel, somarão 262 deputados (51%) e 45 senadores (55%), mas há opositores declarados em União Brasil, PSD e MDB. O número de votos com os quais o futuro governo pode contar é menor. Os petistas Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) terão muito trabalho. No que respeita à divisão do poder, surpresos devem estar os mascates de crise: as três legendas citadas terão ministérios ditos "de entrega", que inauguram obras —Transportes, Cidades e Desenvolvimento Regional— ou respondem pelo financiamento e gestão de áreas essenciais: Agricultura e Minas e Energia. Não estavam na campanha de Lula, mas somarão nove ministérios, um a menos do que o PT.

Aqui e ali, tentações recalcitrantes que remanescem da peste lava-jatista entortam o nariz para a negociação com os partidos. Sabemos no que deu "a alternativa". Ademais, sai Anderson Torres, entra Flávio Dino. Sai Damares Alves, chegam Silvio Almeida, Anielle Franco e Cida Gonçalves. Sai Marcelo Queiroga, vem Nísia Trindade. Camilo Santana ocupará a pasta que já foi de Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub e Milton Ribeiro. Marina Silva volta ao Meio Ambiente, que ficou exposto à "boiada" de Ricardo Salles. Esqueço as tripas metafóricas e sinto uma espécie de conforto civilizatório que não faz a Bolsa subir ou o dólar cair.

Tiro quatro colunas de férias e, sendo vontade da Folha, volto no dia 3 de fevereiro. O Brasil olhava o abismo, mas conseguiu virar o rosto quando o abismo olhou para ele. O fujão cumpriu a promessa e desconstruiu muita coisa. É preciso reconstruir e avançar. Feliz Ano Novo!

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