Reinaldo Azevedo

Jornalista, autor de “Máximas de um País Mínimo”

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Jair Bolsonaro se entrega à política da destruição e joga Tarcísio às víboras

Capitalismo brasileiro tem mesmo de se arranjar com 'o comunista' Lula

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Oito meses depois de derrotado nas urnas, o que restou a Jair Bolsonaro, a quem já se dispensou, até em textos que se queriam de fino trato, a condição de líder de uma guinada conservadora virtuosa, ainda que ele fosse um tanto tosco? Só a sabotagem. Qual a sua alternativa para o arcabouço fiscal ou a reforma tributária? Nada. "Os tais textos passaram vergonha?" Bem, eles nem acertam nem erram. Seus autores, sim.

O imbrochável e inelegível resumiu a complexidade do seu credo político no Twitter —transcrevo como está lá. "Não à Reforma Tributária do PT: Lula se reúne com o Foro de SP (criado em 1990 por Fidel, FARC, ...), diz ter orgulho de ser comunista, que na Venezuela impera a democracia, é amigo de Ortega que prende padres e expulsa freiras e seu partido comemorou a minha inelegibilidade. (...) Do exposto, a todos aqueles que se elegeram com nossa bandeira de ‘Deus, Pátria, Família e Liberdade’, peço que votem contra a PEC da Reforma Tributária do lula"

Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas em evento da PM em São Paulo, em junho - Zanone Fraissat - 2.jun.23/Folhapress

É o puro chorume da lógica bolsonariana: se Lula "se reúne com o Foro de SP", então é preciso votar contra. Entenderam? Se o petista disse "ter orgulho de ser comunista", há de se combater uma proposta defendida pela quase totalidade do empresariado e por sólidas reputações liberais. Em tempo: o petista afirmou se orgulhar de que a extrema direita o chame e a seus aliados de comunistas. É coisa distinta. Mas não se esperem do outro certas sutilezas...

Quando seu líder maior foi condenado sem provas, o PT não entregou os pontos e entrou no modo "resistência". O homem passou 580 dias na prisão e agora exerce seu terceiro mandato, conquistado nas urnas. Nota lateral: em entrevista ao SBT, citou o caso de Joe Biden e disse que pode se animar a disputar a reeleição, mas que é cedo para tratar do assunto. Quem, com um tantinho de juízo, diria o contrário a esta altura? Seria como dar largada à corrida sucessória no seu próprio quintal. Volto ao ponto.

O inconformismo com a condenação e a manutenção do petista como candidato foi entendida por muitos como um empecilho à ascensão de outras lideranças no campo progressista. Bem, o PT efetivamente existe. A rigor, resta como único grande partido com vida e militância ativas, indo além de um mero ajuntamento de interesses para ocupar posições no Estado e obter benefícios.

Não sei se percebem, mas o bufão da extrema direita busca mimetizar a resiliência de seu antípoda. Ocorre que são situações brutalmente diferentes. Os lulistas organizaram uma reação de caráter democrático a desmandos de uma camarilha formada por membros do MPF e da Justiça. Tivesse abandonado aquele que caíra em desgraça, teria se desintegrado porque corresponderia a se vergar à leitura definida por seus adversários.

Que orientação tem a dar o prosélito da cloroquina a suas bases? A resposta está no Twitter. Se o sujeito se elegeu com a bandeira "Deus, Pátria, Família e Liberdade", tem de ser contra o IVA dual e a cobrança de impostos no destino... Elementar, não?

É impossível a Bolsonaro seguir os passos que levaram à ressurreição política de Lula porque, inelegível e, entendo, vislumbrando uma boa temporada na cadeia, dedica-se, de forma obstinada, à simples política da destruição. A insanidade é de tal sorte que não hesitou em jogar Tarcísio de Freitas às víboras porque este passou a defender a reforma. Liderou pessoalmente o linchamento do governador em uma reunião do PL. Ele não quer ter aliados. Só se contenta com reféns.

Tarcísio ainda tentou ponderar que a direita não pode correr o risco de sobrar na história como adversária da reforma. Inútil. No mesmo encontro, Ricardo Salles, desqualificando o mais novo alvo das milícias digitais, disse ser "mais fácil construir estradas do que enfrentar as esquerdas". E tratou "Meio Ambiente, Educação, Justiça e Cultura" como "ministérios ideológicos".

A estratégia do tal líder da "guinada conservadora"? Expor a cicatriz no abdômen e combinar com Michelle uma chorosa declaração de amor para encharcar de lágrimas o solo da reação. Na terra salgada pela mistificação, nada brota. A saída do capitalismo brasileiro, parece, é se arranjar mesmo com o "comunista", aquele do maior Plano Safra da história.

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