Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra

Em 1968, tudo era melhor

Bolsonaro lança o slogan de sua futura presidência e mostra plano de metas

Em cerimônia realizada na rua Tutoia, o virtual presidente Jair Bolsonaro apresentou os pilares de seu governo: "Tenho dito que o objetivo é fazer o Brasil semelhante ao que era há 40, 50 anos", discursou. Em seguida, ergueu uma folha de papel sulfite em que aparecia um slogan mimeografado: "O Brasil voltou, 50 anos em 4".

Em seguida, Bolsonaro apresentou seu plano de metas.

1. Em 1968 tudo era melhor. O Brasil tinha uma população de cerca de 70 milhões de pessoas. Hoje somos mais de 200 milhões. Minha primeira medida será liberar o porte de arma para, logo no primeiro ano de governo, reduzir a população a um terço.

2. Em 1968 o Brasil não tinha fraudes nas urnas eletrônicas por um simples motivo: não havia eleições. São estratégias militares como essa que resolvem problemas complexos de maneira simples.

3. Em 1968 o brasileiro abria os jornais e não via escândalos de corrupção. Não havia fake news corrompendo nossas ilibadas reputações. A maneira mais eficiente de combater a corrupção é censurar a imprensa. Em nome da segurança nacional, também vamos suspender a internet, os celulares, o teletrim e o fax.

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Débora Gonzales

4. Em 1968 o AI-5 foi implementado. O ato revolucionário continua moderno e será resgatado pelos motivos a seguir:

4.1. Acabou com a palhaçada de habeas corpus. Homens direitos tinham total autonomia para impôr a ordem sem mimimi dos direitos humanos.

4.2. Num corte de custos exemplar, que respeitou o dinheiro do contribuinte, o Congresso e as assembleias legislativas foram fechados.

5. Em 1968 não tinha Lei Rouanet. Artista bom era artista preso, como foram Caetano e Gil. Ou, mais à frente, exilados, como Geraldo Vandré, Chico Buarque, Glauber Rocha e tantos outros.

6. Em 1968 ninguém se preocupava com a Venezuela. Nem com qualquer outro país da América do Sul. A não ser os artistas que, por isso, foram exilados.

7. Em 1968 não havia Bolsa Família. A economia andava na linha: redução do salário mínimo e aumento das desigualdades sociais. Tudo funcionando para os ricos ficarem mais ricos e assim não encherem o saco batendo panelas.

Contador

Estamos trabalhando há 226 dias sem saber quem matou —e quem mandou matar— Marielle Franco. Em 1968 não havia sequer espaço para surgir uma Marielle Franco.

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