Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Renato Terra

Quem organiza a Libertadores gosta de futebol?

Um apelo para aqueles que querem regular demais o futebol sul-americano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os colonizadores da América talvez sejam incapazes de ver o que aconteceu no estádio Defensores del Chaco quando o Flamengo foi eliminado pelo Olimpia. A integração catártica entre torcida e jogadores é um fenômeno humano impressionante. Cada suor ganha contornos épicos de sangue derramado —mesmo que nenhum sangue seja derramado. Bandeiras, fogos, cantos das multidões unificam 11 homens num só corpo e cria-se uma entidade imbatível. Pois é. Nesse sentido, não há nada igual ao futebol sul-americano.

Vamos aos resultados: o Olimpia passou de fase, mas foi multado porque sua torcida usou objetos pirotécnicos.

Existe algo sagrado e profundamente cultural em estádios como La Bombonera, Monumental de Núñez, Defensores del Chaco e no Estádio Centenário, no Uruguai. São templos em que multidões se unem em torno de uma fé. E produzem uma força coletiva palpável e colossal que opera milagres em campo (muitos deles amplamente documentados). Ao mesmo tempo, o futebol ajuda a criar os símbolos e a identidade de um país. São roupas, cantos de torcida, cores, hábitos, memórias coletivas que unem pais, mães, filhos e filhas por gerações.

Os colonizadores da América não enxergam nada além dos balancetes trimestrais. Entre outras medidas inspiradas nos rentáveis campeonatos europeus e nos pasteurizados "padrões Fifa", criaram as regras abaixo para os jogos da Libertadores:

- É PROIBIDA a entrada no estádio com bandeirões, bandeiras em hastes de qualquer tipo, pau de selfie e guarda-chuva;

- É PROIBIDO entrar com camisa, bandeira e acessórios de qualquer outro time ou seleção da América do Sul.

- Final em jogo único disputada num país aleatório escolhido previamente.

Sobre um fundo dourado há um frasco laranja de VitaC e no frasco se lê Patrocinador oficial e o logo da Libertadores.
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra de 24.ago.2023 - Folhapress

Por isso, faço um apelo. Há que se chegar a um meio-termo, em que se valorize a segurança sem abafar a poesia das arquibancadas. Entre modernização e tradição. Entre os perigosos rojões nas mãos dos torcedores e as festas pirotécnicas que podem ser organizadas com responsabilidade e planejamento. Entre as hastes de bandeiras com mais de um metro que podem servir como armas brancas e suportes menores e mais modernos para os torcedores levarem as cores de seu clube em pavilhões aos milhares. Entre as finais distantes e as decisões de título que trazem para o estádio a cultura, a atmosfera e o calor dos países envolvidos na partida.

E que fechem um patrocínio com fabricante de Vitamina C para ajudar na imunidade dos torcedores que sequer puderam levar guarda-chuvas para os estádios.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.