O Internacional venceu o Bolívar, em La Paz, escalando sete titulares estrangeiros: Rochet, Bustos, Mercado, Nico Hernández, Aránguiz, Enner Valencia e Johnny. O último, nascido nos Estados Unidos, cresceu no Brasil, tem dupla nacionalidade, mas só pode jogar pela seleção norte-americana.
Se o Inter vencer a Libertadores assim, será recorde. A LDU tinha quatro estrangeiros, quando ganhou o torneio, em 2008. Nunca outro campeão atuou com número maior de contratados de fora do país de origem.
Parece um risco aumentar o número dos que não estão aptos a defender a seleção sem conseguir trazer a elite do exterior, que está na Europa ou a caminho da Arábia Saudita.
Os clubes contratam no mercado sul-americano porque é barato.
Ninguém aqui é contra os jogadores de outros países. A pergunta é se o número tão alto dos que não são craques e só podem atuar por outras seleções não pode prejudicar o desenvolvimento do futebol do Brasil a médio prazo.
Também parece um contrassenso exportarmos os jovens mais promissores e contratar quem a Europa não quer.
Vinicius Junior e Rodrygo foram vendidos aos 16 anos, Endrick idem e Vítor Roque, de 18, sairá no início do ano que vem. Enquanto isso, a Série A contrata quem não tem vaga na Liga dos Campeões.
Há as contribuições inegáveis. Luis Suárez no Grêmio, De Arrascaeta no Flamengo, Gustavo Gómez no Palmeiras... Craque sempre tem lugar. Referências em suas posições alimentam o desejo de crianças brasileiras alcançarem o alto nível em que atuam.
A pergunta é: precisa ter sete?
O Brasil não é a Europa. Lá, o grande produto é a Champions League. Por mais que se saiba que torcedores de norte a sul sempre preferiram seus clubes à seleção, o que propaga o futebol da América do Sul no mundo não são as competições disputadas pelos times. Ninguém nos Estados Unidos ou Europa assiste às partidas da Libertadores.
O Brasil não voltará a ser visto como potência se ganhar dez Libertadores seguidas. Se conquistar a Copa do Mundo sim.
O último campeão sul-americano apenas com titulares de dentro de seu país foi o River Plate, em 2018. Na Europa, a Internazionale ganhou a Champions de 2010 só com estrangeiros e o Steaua Bucareste, em 1986, foi o último totalmente doméstico.
Ninguém quer o nacionalismo autoritário de Nicolae Ceaucescu, ditador romeno na ocasião do troféu do Steaua. "Ele morria de ciúme do sucesso dos atletas", disse o antigo meia romeno, Gheorge Hagi, em entrevista à revista Placar, em 1994.
Proibido preconceito e xenofobia.
A questão é entender até que ponto o excesso de estrangeiros ajudará o Brasil a voltar a figurar na elite do futebol do planeta. No início deste século, os argentinos ganhavam Libertadores com o Boca e a seleção brasileira era campeã do mundo.
Agora, os times daqui orgulham-se da hegemonia na América do Sul. Quem venceu a Copa do Mundo foi a Argentina.
Não vale perguntar se prefere ser campeão mundial com seu clube ou com a seleção, porque a primeira hipótese não existe no cenário atual. Só a Europa conquistou os últimos dez mundiais de clubes e metade deles não teve a América do Sul nem sequer na final.
O torcedor colorado se sentirá orgulhoso se ganhar a Libertadores e ainda dirá que não há nada mais Internacional do que o recorde de estrangeiros. Esta coluna se solidarizará em sua felicidade e seguirá perguntando qual o limite mais correto para fazer o Brasil revelar e manter jogadores de alto nível que possam ajudar a seleção a ganhar as próximas Copas.
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