Renato Terra

Roteirista e autor de “Diário da Dilma”. Dirigiu o documentário “Uma Noite em 67”.

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Renato Terra
Descrição de chapéu PIB Twitter

Carta aberta para meu golpinho

Receba estes conselhos do sexagenário Golpe de 1964

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Meu querido golpinho, essa sua geração Nutella só quer saber de lacração. Ninguém derruba uma democracia xingando no Twitter. Na hora que a borracha comeu, você me vem com mimiminutinha. Valham-me Deus, família e propriedade! Pelos bigodes de Floriano Peixoto! Meu querido golpinho Nutella, você não aguentaria cinco minutos no DOI-Codi.

Já sou um golpe sexagenário e lhe escrevo esta carta aberta com o braço forte. Você tem muito a aprender com os mais velhos. Quem dera ainda fôssemos os mesmos e vivêssemos como nossos pais.

Uma ilustração colorida sobre um fundo azul de um pote no topo da página derramando Nutella
Ilustração de Débora Gonzales para coluna de Renato Terra - Débora Gonzales

Meu caro golpinho, o mais importante é o seguinte: você tem que mostrar pros empresários que derrubar a democracia é lucrativo. O resto é consequência. Eu botei tanque na rua só pra tirar onda! Naquele final de março de 1964, o jogo estava ganho. O Golpe aqui, com G maiúsculo, já tinha o apoio da elite econômica, dos jornais e de parte da Igreja. Todo esses aí voltaram atrás depois, mas aí eu já mandava prender a porra toda.

Você chegou a apresentar meus números? Era só mostrar quem enriqueceu a partir de 1964. Nosso PIB crescia mais de 10% no Milagre Econômico. A gente soube surfar no êxodo rural e na farta oferta internacional para gerar riqueza astronômica para a elite. É ou não é um milagre ter 10% de crescimento sem ter a obrigação de construir um país? Não deixamos legados de educação, saneamento, segurança, planejamento, nada! E mais: garantimos que o salário dos trabalhadores ficasse duas décadas abaixo da inflação. É o milagre de produzir e concentrar riqueza.

Você falou para os empresários que a pátria mãe gentil aqui fez de tudo por eles? Aumentamos a dívida externa em mais de 30 vezes! Reprimimos os sindicatos, a livre circulação de informações e toda mobilização social. Nem quando a inflação veio, o empresário precisou se preocupar. A gente botava a culpa no consumidor, dizendo que ele não pechinchou o suficiente. Veja quantas obras a Odebrecht pegou na minha gestão. Sem licitação, sem investigação e sem jornalista pra encher o saco.

Respeite os mais velhos! Você fica por aí fazendo meme do Brilhante Ustra e se esquece de olhar para nossa longa árvore golpeológica. Eu, sexagenário de 1964, por exemplo, sou filho do golpe do Estado Novo e me inspirei na repressão implacável de Filinto Muller. Você mostrou pra eles quem ganhou dinheiro no Estado Novo? Na República Velha? Você vai ver que é só combinar o golpe com as mesmas pessoas, seu inútil.

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