Criança é um produto que não melhora. Fornada atrás de fornada sai com os mesmos defeitos de fabricação. Elas corrigem, mas o tempo que se perde no processo é exasperante.
Por que é que as crianças não chegam a conclusões óbvias mais cedo, em vez de estarem anos a persistir em erros e a enervar todo o mundo, quando podíamos viver todos muito felizes se elas entendessem imediatamente que as suas primeiras opiniões são erradas?
Há três grandes áreas em que as crianças são tragicamente bobas e depois deixam de ser: o sono, o pão e a sopa.
No início, não têm interesse em dormir. Só dormem em último recurso, e às vezes os pais recorrem ao que tem de ser definido como estelionato automóvel.
Há pais que vão dar uma volta de carro com as crianças, para que elas adormeçam com a trepidação. Elas têm chiliques na hora de deitar, rejeitam a sesta na escola e insistem em acordar às seis da manhã ao sábado.
Podem dormir e não querem, e mais tarde vão querer dormir e não podem. Hão de sonhar com um trabalho em que o chefe diz, no meio da tarde: "Pessoal, são três horas. Está aqui uma caminha feita para cada um. Vou diminuir as luzes e venho acordar-vos às quatro e meia. Depois retomamos a contabilidade, não tem pressa."
Dentro de 20 anos elas vão matar por isso. Agora, odeiam. Vão levar décadas a rever toda a sua posição sobre o sono.
Com o pão é a mesma coisa. Durante anos, as crianças gostam apenas do pão mais desinteressante. Branco, sem côdea, sem sabor. Recusam pão verdadeiro, feito num forno e não numa fábrica. E isso vale para a comida em geral. Nos restaurantes, o menu infantil tem sempre a pior comida. Enquanto os pais comem os pratos decentes, as crianças escolhem entre massinha com salsicha ou hambúrguer no pão. No mais desinteressante pão. A polícia devia intervir, mas não faz nada.
Por fim, a sopa. É um alimento magnífico. Quentinho, saboroso, conforta. Ainda melhor se tivermos um pedacinho de pão para acompanhar. E se, depois, pudermos fazer uma sesta. Ou seja, o inferno das crianças. Nascem a saber mexer num iPad, mas continuam a abominar o que é bom. Não sei o que a natureza anda a fazer.
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