Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Ricardo Araújo Pereira

Nenhum astrólogo avisou que 2020 seria difícil e fora do vulgar

Só há duas explicações: ou isto da cartomancia é uma burla ou o universo conspirou para enganar os videntes

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Todos os anos, em dezembro, vou reler as previsões que os astrólogos fizeram em janeiro, para ver quem esteve mais perto de acertar.

Neste ano, não consegui esperar. Tinha muita curiosidade em perceber de que modo é que quem prevê o futuro tinha avisado que o ano ia ser um bocadinho difícil e fora do vulgar. Surpreendentemente, ninguém avisou. Só há duas explicações: ou isto da cartomancia é uma burla (hipótese na qual me recuso a acreditar) ou o universo conspirou para enganar os videntes.

Ilustração de cartas posicionadas como um leque em uma mesa e duas mãos com unhas pretas longas sobre elas
Bruna Barros/Folhapress

Mercúrio desviou-se propositadamente da rota de Júpiter, para que os astrólogos não percebessem que se estava a preparar uma pandemia nunca vista. O seis de ouros evitou sair antes do nove de espadas, para não denunciar que toda a economia mundial ia sofrer o maior abalo em décadas.

As tripas de galinha, as borras de café e os búzios estavam todos dentro da pegadinha e enganaram todos os profissionais da astrologia.

Não é a primeira vez que acontece. Por vezes, o universo indica a um ou mais profissionais desse gênero que o mundo vai acabar num determinado dia e depois o mundo, por teimosia ou estupidez, não acaba. Por isso, nunca é boa ideia prever o fim do mundo.

Se o mundo acabar mesmo, não haverá hipótese de capitalizar a proeza, uma vez que todos os potenciais clientes estarão mortos. E nenhum morto diz: “Vou consultar o vidente que previu o fim do mundo”. Nenhum morto fala, aliás. Exceto o meu tio César, que, segundo familiares meus que estiveram presentes no funeral, disse: “Não, não! Eu estou vivo. Desliguem o forno crematóri... aaaaaaargh!”.

Mais vale prever que o mundo vai continuar. Ou se acerta ou não sobra ninguém para assinalar que se errou.

E há outras previsões fáceis de fazer. Por exemplo, é difícil errar na previsão de que, no Brasil, há coisas que não vão correr bem no próximo ano.

Haverá sem dúvida alguma um escândalo. Responsáveis políticos vão estar envolvidos. Responsáveis políticos do partido a que pertencem os envolvidos vão lembrar que responsáveis políticos de outros partidos já estiveram metidos em escândalos iguais ou piores. As redes sociais vão incendiar-se. E depois chegará a altura de fazer as previsões para o ano seguinte.

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