Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu

Surpreende ver Bolsonaro lamentar que o Brasil se aproxima de uma ditadura

Se, no seu entender, o Estado brasileiro se assemelha ao regime que ele aprecia, de que se queixa?

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O mais surpreendente no discurso que Bolsonaro fez perante os embaixadores não foi o fato de o presidente ter voltado a exprimir a opinião segundo a qual o sistema eleitoral brasileiro não é fiável.

O mais surpreendente foi que, ao afirmar que o Brasil não tem, na prática, eleições livres e justas, ele estivesse tão pesaroso. Que Bolsonaro considere que o país não é uma democracia a sério, eu admito. Mas que isso o entristeça já não compreendo.

No desenho de Luiza Pannunzio há dois homens de semblantes tristes e bravos (um parece muito com o presidente Bolsonaro e o outro com seu vice Braga Netto) - vestidos de terno e sapatos sociais, postos sentados em cima de uma urna eletrônica cujo a tela está escrito FIM. Acima - pairando sob a cabeça desses dois senhores a palavra DEMOCRACIA os assombra.
Luiza Pannunzio/Folhapress

Este é o homem que tem louvado a ditadura. Se, no seu entender, o Estado brasileiro se aproxima do regime que ele aprecia, de que se queixa? Devia se congratular por o sistema se degradar na direção que ele pretende. Está tudo mal, por isso está tudo bem.

Por outro lado, quando aponta supostas falhas a um sistema eleitoral que sempre funcionou bem nos cerca de 20 anos em que esteve em vigor, Bolsonaro subscreve uma ideia que os seus críticos têm defendido: que, sob o governo dele, as coisas ficaram piores do que estavam. Talvez prevendo que vai perder as eleições, Bolsonaro já começou a treinar para quando estiver na oposição.

O discurso de Bolsonaro assentou numa apresentação em PowerPoint que, se tivesse sido feita numa aula do ensino médio, dificilmente obteria nota positiva. Vê-se que o aluno Jair fez a sua escolaridade durante a ditadura militar, tempo em que a disciplina de filosofia foi proibida, e depois disso não procurou compensar o tempo perdido.

Felizmente não havia professor na sala em que Bolsonaro fez a apresentação, mas a avaliação dos embaixadores não deixava grandes dúvidas. Disseram que os argumentos aduzidos pelo presidente careciam de uma coisa que costuma fazer falta: provas. E que, assim sendo, a intervenção não passara de uma manobra inspirada nas de Trump, que tão bons resultados obtiveram.

Se queria desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro poderia ter apresentado uma prova fortíssima. Devia ter dito apenas: reparem que é um sistema que permite que uma pessoa como eu consiga ser eleita. Talvez os embaixadores se tivessem deixado convencer por esse argumento.

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