Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Descrição de chapéu

Censurar o que diz Lula ou Bolsonaro é achar que as pessoas não sabem pensar

Quando proibimos a expressão de mentiras, mais tarde ou mais cedo também calamos quem diz a verdade

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Primeiro, o YouTube alterou a sua política e excluiu um vídeo em que Bolsonaro atacava o sistema eleitoral, baseando-se em falsidades, e fazia ameaças golpistas.

Depois, um ministro do Tribunal Superior Eleitoral mandou apagar do YouTube um vídeo em que Lula chamava Bolsonaro de genocida.

No desenho de Luiza Pannunzio há duas pessoas. Uma veste camiseta amarela, calça e coturno preto. Está de pé no canto superior esquerdo do espaço. Segura um megafone com a mão direita e a outra, mantém elevada - com punho cerrado. Do seu megafone sai a frase escrita em letra bastão amarela: "repito ameaças golpistas e mentiras sobre as urnas eletrônicas." Já a outra pessoa está no canto direito inferior, usando camiseta vermelha, calça e tênis preto. Segura com a mão esquerda um megafone e mantém o outro braço levantado também de punho cerrado. Do seu megafone sai a palavra: "genocida!" com exclamação - escrita em vermelho em letra cursiva.
Publicada neste sábado, 13 de agosto de 2022 - Luiza Pannunzio

Agora é só prosseguir esta prática até ficarmos todos calados. Fica claro, mais uma vez que, quando proibimos a expressão de mentiras, mais tarde ou mais cedo também calamos quem diz a verdade.

Mas talvez seja melhor assim, porque a verdade às vezes até incomoda mais do que a mentira. Devemos agradecer imensamente que o YouTube e o juiz decidam aquilo que nós podemos e não podemos ver. Como se sabe, nós somos uma espécie de vegetal, desprovido da capacidade de raciocinar e que adere imediatamente a toda e qualquer tese que seja tornada pública.

Os nossos benignos protetores evitam que nós possamos saber o que diz o presidente da República e um ex-presidente que concorre novamente ao cargo. A melhor forma de ficarmos bem informados para poder exercer o nosso direito de voto é nos impedirem de saber o que dizem os dois principais candidatos às próximas eleições.

Tanto o juiz como os responsáveis do YouTube viram os vídeos. Eles conseguem vê-los sem que lhes aconteça nada. São capazes de olhar a Medusa nos olhos sem ficarem transformados em pedra —habilidade que nós não temos, como eles corretamente supõem.

É essa superioridade que lhes dá o direito de determinar o tipo de discurso a que nós podemos ter acesso em segurança. Certos filmes são para maiores de seis anos, outros para maiores de 18. Algumas palavras de presidentes e ex-presidentes da República são interditas a qualquer idade.

Ninguém tem a maturidade suficiente para ouvi-las. Infelizmente, receio que apagar os vídeos possa não ser suficiente. Ou até inútil. Primeiro, porque algumas pessoas já os viram. Segundo, porque o seu conteúdo é referido nas notícias.

Quando os jornais dizem que "YouTube apagou vídeo em que Bolsonaro mentiu sobre as urnas eletrônicas e repetiu ameaças golpistas", ou que "ministro manda apagar discurso em que Lula chama Bolsonaro de genocida", ficamos a saber o mesmo que saberíamos vendo os vídeos. Assim, não conseguem nos manter completamente na ignorância, o que é uma pena.

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