Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Brasil sai do Sete de Setembro com imagem de país totalmente gagá

Os protagonistas da festa foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último

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As celebrações do duplo centenário do Brasil parecem ter revelado o que muitos temiam: aos 200 anos, o país está gagá. Primeiro, o presidente recebeu no Palácio do Planalto uma víscera vinda de outro continente. Depois, discursou perante uma multidão de apoiadores e se gabou de ser "imbrochável".

Apesar de falarmos a mesma língua, em Portugal nós não usamos a palavra "imbrochável", por isso tivemos de recorrer ao dicionário. O que significaria? O que poderia um chefe de Estado estar a se vangloriar de ser, no bicentenário do seu país? Corajoso? Responsável? Sensato?

No desenho de Luiza Pannunzio o presidente da república está de pé em cima de um tablado verde que faz com que ele fique bem mais alto que sua esposa - que está posta ao seu lado direito. No tablado que lhe serve de base está escrito: Pinóquio. Ela veste um elegante vestido ajustado ao corpo com laço na cintura enquanto ele veste terno e a faixa presidencial verde e amarelo. No lugar do nariz do presidente há um pênis brochado e acima de suas cabeças está escrito: improvável imbrochável improvável imbrochável - fazendo referência ao coro que o próprio Jair puxou no dia da comemoração do bicentenário da independência do Brasil.
Ilustração publicada em 11 de setembro de 2022 - Luiza Pannunzio

Com alguma surpresa, descobrimos que a palavra queria dizer "aquele que não perde a potência sexual". Mais surpreendente ainda foi o fato de a cerimônia não ter prosseguido com um concurso de arrotos. A psicologia alega ter descoberto que a fanfarronice costuma camuflar uma insegurança, mas não me custa a acreditar que Bolsonaro esteja a dizer a verdade.

Todo aquele sangue que manifestamente não está a irrigar o cérebro tem de ter ido para algum lugar. Por outro lado, mesmo antes de encomiar a sua própria potência, Bolsonaro elogiou a pujança da economia brasileira e afirmou que a inflação "está despencando".

Sucede que o IPCA está em 10%, no acumulado de 12 meses. O leite aumentou mais de 60% no último ano. A batata inglesa aumentou quase 70%. Talvez ele se tenha equivocado. É possível que, entre a inflação e a sua própria masculinidade, ele tenha confundido o que continua a subir com vigor e o que já está despencando.

O mais irônico, no entanto, é que, quando vejo o vídeo em que Bolsonaro proclama a sua potência sexual, eu perco um pouco da minha.

Creio que passarei a chamar aquele momento à memória sempre que me achar, digamos, demasiado entusiasmado.

Em resumo, os protagonistas do bicentenário do Brasil foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último. Não se pode dizer que tenha sido uma festa tradicional.

Festas de aniversário, sobretudo de aniversariantes de idade vetusta, como era o caso, costumam ter menos referências a miudezas. Parecia mais uma despedida de solteiro.

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