Talvez as notícias sobre a polarização do debate político no Brasil sejam exageradas. Para quem vê de fora, os brasileiros não parecem irremediavelmente divididos: tanto bolsonaristas como lulistas fazem um "L" com os dedos.
Uns levantam a perna grande, outros levantam a perna pequena. É a única diferença. Talvez possa haver uma posição de compromisso entre o "L" e a pistolinha.
Por exemplo, rodar o "L" até fazer uma espécie de "V", de Vamos ver se isto continua a ser um país em novembro. Quem sabe se não pode ser um desígnio aglutinador.
Quando se soube que haveria um segundo turno, e por isso mais um mês de campanha, o mundo temeu que a tensão pudesse escalar para níveis insuportáveis. Discordei. Tinha a certeza de que a democracia brasileira já era suficientemente madura, e este mês adicional de debate iria proporcionar a oportunidade para discutir os muitos e graves problemas do Brasil.
Foi então que entrou em cena mestre Vicky Vanilla, sacerdote da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon, e eu percebi que estava enganado.
Eu não conhecia mestre Vicky Vanilla, nem sabia da existência da Igreja de Lúcifer do Novo Aeon, e ainda hoje desconheço o que aconteceu ao Velho Aeon, bem como as razões que levaram à sua substituição pelo Novo Aeon.
Mas, segundo os jornais, mestre Vicky Vanilla declarou o seu apoio a Lula, e a campanha de Bolsonaro achou a tomada de posição significativa. De que, ninguém sabe, mas o episódio gerou comoção.
De acordo com a Folha, mestre Vicky Vanilla "pratica rituais para Lúcifer na internet, mas também faz dancinhas com o ‘L’ na mão". Logo, concluíram bolsonaristas, Lula estava associado ao satanismo. Ora, se receber o voto de satanistas faz do candidato um satanista, em princípio isso também converte ao satanismo todos os seus outros eleitores.
Um satanista vota num candidato que por via disso é satanista e, portanto, qualquer eleitor seu, estando a votar num satanista, é um adorador do capeta.
Deus é brasileiro, mas 48,43% dos brasileiros preferem Belzebu. É um mistério político-teológico difícil de deslindar. Felizmente, não há nenhum outro problema mais urgente para discutir. Podemos dedicar a este todo o tempo que ele merece.
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