O deputado Pastor Eurico quer proibir o casamento homoafetivo. Confesso que não me sinto autorizado a proibir os outros de casarem, na medida em que não passa pela cabeça obrigar qualquer um a se casar.
Mas o deputado Pastor Eurico é um sofisticado sommelier de amor e sabe distinguir o amor que merece ser legalmente reconhecido do que não tem dignidade para isso.
Não tenho o paladar educado para isso, o que radica em um preconceito meu sobre os homossexuais. Como todos os preconceitos, ele se baseia numa ideia irracional e absurda: estou convencido de que os homossexuais são iguais a mim.
Sei que se trata de um preconceito ofensivo para eles, mas não consigo deixar de acreditar que é verdade. Ninguém me convence do contrário.
Por mim, fazia-se um referendo. Mas não um referendo geral sobre casamento homoafetivo. Seriam vários referendos.
Proponho que o casamento entre pessoas do mesmo sexo seja referendado caso a caso. O Gilberto e o Ademir desejam matrimônio? Pois então que se crie um debate, a nível nacional, para que os brasileiros digam, em consciência, se lhes dão permissão para casar.
Organizem-se debates entre o Gilberto e os antigos namorados do Ademir, para que todos possam perceber se ele é, de fato, a escolha acertada.
Sobretudo, é fundamental que o Pastor Eurico possa avaliar o projeto de vida do Gilberto e do Ademir, para ver se lhe agrada. E depois, sim, os eleitores irem às urnas e decidirem se oferecem a mão do Ademir.
Aproveito para dizer que também sou contra a adoção de crianças por casais heterossexuais. Não tenho nada contra os heterossexuais. Tenho amigos, e eu próprio sou um.
Mas creio que a nossa sociedade não está preparada. Primeiro porque é contra a natureza. Não vemos casais de animais heterossexuais adotarem.
Pelo contrário, estão preocupados em pôr as crias fora do ninho o mais rápido possível. Ou gerar novas crias com as suas próprias. Isso é natural.
Em segundo, pode influenciar a orientação sexual das crianças. Todos os homossexuais que eu conheço são filhos de um casal heterossexual.
Por último, há o estigma social. Imaginem que uma criança adotada por um casal heterossexual vai à casa de um colega que foi adotado por um casal de homens. Como é que o filho dos heterossexuais vai reagir ao ver que a casa do colega é melhor decorada? Cuidado.
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