Gosto muito de ver, em parlamentos, quando alguém discursa e membros do mesmo partido aplaudem ou gritam "bravo!" ou "muito bem!".
Mas fico triste quando o parlamentar que foi o único do seu partido a ser eleito não tem quem o incentive quando fala.
Por isso, fiquei satisfeito quando soube que Casey Bloys, CEO da HBO, pedia aos seus funcionários que criassem perfis falsos no Twitter para atacar os jornalistas que falassem mal dos programas da plataforma. O objetivo não era ter alguém a gritar "bravo!", "muito bem!" aos amigos, mas era parecido: tratava-se de ter alguém a gritar "péssimo!", "muito mal!" a quem nos critica.
A interessantíssima história revela coisas importantes sobre o nosso tempo. Primeira: os CEOs têm bastante tempo livre. Têm tempo para se entreter com críticas. E, depois, têm tempo para engendrar uma estratégia para responder aos autores das críticas.
Segunda: o CEO da HBO acredita que as críticas têm poder e que as respostas às críticas têm a capacidade de anular esse poder. Em princípio, ele acha que os espectadores leem uma opinião negativa escrita pelo crítico do New York Times e ficam sem vontade de ver determinada série. Mas depois leem no Twitter a resposta de @crazyeagle23 e recuperam a intenção de a ver. Por isso, Bloys pediu aos funcionários que criassem perfis falsos com opiniões elogiosas das séries e críticas das opiniões negativas.
Há pessoas que têm opiniões e há opiniões que têm pessoas. Perfis falsos são opiniões que têm pessoas. A pessoa não existe, mas a opinião precisa de um hospedeiro. Ao que parece, parte do trabalho dos funcionários da HBO era criar pessoas fictícias com opiniões reais. É uma profissão criativa.
A HBO contrata roteiristas que inventam as personagens das séries e depois contrata funcionários que inventam as personagens que apreciam as séries. Não há nada como inventarmos os nossos próprios espectadores para termos a certeza de que correspondemos aos anseios do público.
No filme "Matrix", há a vida real e a vida virtual. Neo, Trinity e Morpheus percebem que a vida real, em que são escravizados pelas máquinas, é que conta. A vida virtual é uma farsa.
Casey Bloys acha que não. O que se faz na realidade não é tão importante. O que interessa é inventar um número suficiente de pessoas virtuais que apreciem o que foi feito na vida real —@crazyeagle23 concorda.
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