Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Riso é o 'vírus' que mais tem incomodado médicos ao longo da história

Eles passam a vida se esforçando para desenvolver medicamentos, mas ouvem que rir é o melhor remédio

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O vírus que mais tem incomodado médicos ao longo da história provoca convulsões físicas violentas, desfigura as feições do rosto e pode provocar dor de barriga. É o riso. Humoristas de todos os tempos e lugares têm caçoado da ciência médica e dos pobres cirurgiões.

Temos de admitir que a medicina tem graça. Os médicos estudam muito, ao longo de toda a vida, assuntos bem complexos. Mas uma boa parte da profissão tem mais a ver com o talho e a costura. É divertido verificar que pessoas com uma formação acadêmica muito avançada passam boa parte do tempo a retalhar carne e a costurá-la.

No desenho de LP - em pé - um homem branco vestindo camisa, gravata, jaleco, calça e sapatos está segurando uma prancheta na mão esquerda e escreve nela com a mão direita. O estetoscópio no pescoço indica que é médico - o doutor. Ao lado dessa figura há uma frase em vermelho: comédia com médico
Ilustração de Luiza Pannunzio - Folhapress

Uma operação cirúrgica é um conjunto de facadas sábias. No princípio, era ainda pior. Marcial, o poeta latino, escreveu muitos epigramas caçoando dos médicos.

Um dos mais famosos dele dizia algo como: "O Diaulus começou por ser médico, mas, agora, em uma evolução de carreira lógica e coerente, passou a ser coveiro". Para Marcial, a ciência médica era uma charlatanice que redundava frequentemente na morte do paciente.

Talvez seja exagerado chamar ciência médica as práticas clínicas de há 2.000 anos. Plínio, o Velho, na sua "História Natural", publicada no primeiro século depois de Cristo, descrevia um tratamento dentário que consistia em "introduzir nas cavidades dos dentes as cinzas das fezes de ratos ou do fígado seco de lagartos".

Era mais ou menos natural que houvesse sátiras sobre isso. Ainda hoje persiste o riso cruel sobre a aflição dos médicos, algo que fatalmente os leva a cometer erros. Há menos de cem anos, o português Egas Moniz foi premiado com o Nobel da Medicina por um tratamento que hoje é considerado abominável. Chama-se lobotomia.

Abrir a cabeça de um paciente como se fosse o capô de um carro para mexer lá dentro passou de magnífico a execrável em poucas décadas, e quem assiste ao decorrer desse processo não pode deixar de o considerar hilariante.

Com muito menos estudo do que os médicos, os humoristas riem deles. É tudo muito injusto nessa valorosa profissão. E o pior de tudo é que os médicos passam a vida toda se esforçando para descobrir e desenvolver medicamentos que sejam capazes de curar as diversas doenças da humanidade enquanto ouvem dizer em todo lugar que, enfim, rir é o melhor remédio.

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