Ricardo Araújo Pereira

Humorista, membro do coletivo português Gato Fedorento. É autor de “Boca do Inferno”.

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Os 50 são os novos 50

Contem conosco para dizer coisas erradas em momentos delicados e mais nada

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Primeiro, o adversário de Trump era um homem branco velho. Agora, é uma mulher negra jovem. No espaço de uma semana, ele enfrenta, num certo sentido, o exato oposto do que pensava ter pela frente.

As características das pessoas não me interessam. Tenho aquela ideia antiga segundo a qual o gênero, a cor da pele, a orientação sexual e a idade, sendo particularidades que a gente não escolhe nem controla, não nos definem. Mas, para Trump, são a única coisa que interessa. É com base nelas que ele fórmula julgamentos. Por isso, vai ser interessante saber como reagirá a partir daqui.

No desenho, Trump usando boné vermelho, calça, camisa, paletó, cinto e sapatos pretos - está com seu braço direito acenando com a mão bem em frente ao rosto de Kamala que está ao lado dele, à esquerda do leitor. Vestindo calça, paletó e sapato preto de bico fino alto ela está de braços cruzados. Ao lado das figuras deles está escrito: Kamala x Trump
Ilustração de Luiza Pannunzio para coluna de Ricardo Araújo Pereira de 28 de julho de 2024 - Luiza Pannunzio/Folhapress

Ele é agora o idoso. Terá 78 anos no dia da eleição. Se for eleito, no fim do mandato terá a idade que Biden tem hoje. Tudo o que foi dito sobre Biden aplica-se agora a si mesmo.

Sei que talvez tenha exagerado quando disse que Kamala é jovem. Vai fazer 60 anos em outubro. No meu tempo, isso não era jovem. No contexto da política americana, porém, é uma moça na flor da idade.

Eu, com dez anos a menos do que Kamala Harris, não me definiria como um jovem. Tenho 50 anos e recuso aquelas ideias populares segundo as quais "os 50 são os novos 30".

Não são, não. Nem eu quero que sejam. Não quero voltar a ter as preocupações que tinha aos 30. Aos 50, a gente deixa de ligar ao que os outros pensam de nós, e eu não quero voltar a me comportar de outra maneira.

Faço coisas em público que são muito libertadoras para mim e muito embaraçosas para minhas filhas. É ótimo. E levo a mal que queiram fingir que sou mais novo do que sou. O "idadismo" é errado, mas a "idadofilia" é condescendente e ofensiva.

Há uma série de filmes chamada "O Protetor". O protagonista, interpretado por Denzel Washington, é um antigo agente da CIA que aproveita a reforma para defender pessoas que são vítimas de várias máfias.

No decurso das suas aventuras, Denzel derrota dezenas de mafiosos armados usando apenas as mãos. Notem: ele está desarmado contra mafiosos que têm várias armas cada um. Ele pressiona um botão do seu relógio e murmura: "17 segundos". E depois manieta seis ou sete bandidos exatamente nesse espaço de tempo. Não sei se já disse, mas os mafiosos têm armas automáticas e Denzel está desarmado.

Ora, Denzel Washington vai fazer 70 anos em dezembro. Não esperem que nós, os velhos, sejamos capazes de proezas dessas. Contem conosco para dizer coisas erradas em momentos delicados e mais nada. Tirem esses filmes da categoria de ação, onde estão catalogados, quando deviam estar em ficção científica.

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