Ricardo Mussa

Engenheiro de produção, é CEO na Raízen desde 2020 e lidera a força-tarefa de transição energética e clima do B20 Brasil

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Brasil tem potencial para liderar industrialização global com energia limpa

É possível promover economia de baixo carbono movida a energias renováveis a um preço acessível

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O futuro da energia limpa está chegando mais rapidamente do que você pensa.

Essa mensagem não é minha. Está estampada no alto de uma reportagem do The New York Times de agosto de 2023 e ajuda a mostrar como o planeta vem acelerando a corrida pela descarbonização.

Tamanha evolução fica evidente em relatório recente da S&P Global Commodity Insights. O documento mostra como as iniciativas corporativas dos Estados Unidos —país de matriz energética ainda essencialmente fóssil— vêm buscando proativamente a aquisição de energias renováveis. São 17 GW de capacidade de geração livre de carbono entre março de 2023 e abril de 2024, o que permitiu aumentar a capacidade acumulada para mais de 93 GW, incluindo acordos assinados já em 2008.

Usina Fotovoltaica Flutuante (UFF) Araucária, na represa Billings (maior usina de energia solar flutuante do pais) - Eduardo Knapp/Folhapress

Um exemplo emblemático é o da Amazon, maior compradora corporativa de energia renovável do mundo desde 2020. Com o objetivo de alcançar o "netzero", a gigante de ecommerce vem investindo em projetos de energia renovável mundo afora, inclusive no Brasil.

Outras grandes corporações seguem essa trilha, o que abre uma janela de oportunidade para um país com imenso potencial para ser cada vez mais um lugar "friendly shore", atraindo plantas industriais em busca de energia limpa, eficiente e competitiva.

Há diversas formas de se "exportar" sustentabilidade. E uma delas é aproveitar a abundância de energia renovável, segura e barata para transformar o Brasil em um hub de produção livre do carbono, o que pode estimular um desejado movimento de neoindustrialização em nosso território, desta vez movido a energia limpa.

Para ampliar com mais velocidade tais tecnologias, reduzindo custos, atingindo metas climáticas globais e impulsionando economias em todo o mundo, governos devem usar deliberadamente o investimento público e a regulamentação.

É o que aponta o estudo "Dez princípios para a elaboração de políticas na transição energética: lições da experiência", publicado pelo Economics of Energy Innovation and System Transition –projeto liderado por um consórcio de especialistas acadêmicos em economia da complexidade e pensamento sistêmico do Brasil, China, Índia, Reino Unido e União Europeia.

'Dez princípios para a elaboração de políticas na transição energética', do Economics of Energy Innovation and System Transition
'Dez princípios para a elaboração de políticas na transição energética', publicado pelo Economics of Energy Innovation and System Transition - Reprodução

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Lei de Redução da Inflação, aprovada pelo congresso em agosto de 2022, fixou um volume de recursos de US$ 430 bilhões não só para o combate à inflação, mas para as mudanças climáticas.

No Brasil, debates frutíferos vêm ocorrendo em Brasília.

Uma boa iniciativa que tramita no Congresso Nacional é o PL 5174/23, que cria o Paten (Programa de Aceleração da Transição Energética). O texto-base foi aprovado na Câmara dos Deputados e, neste momento, aguarda designação de relator no Senado. Seu objetivo é financiar projetos de desenvolvimento sustentável, através de fundos verdes, lastreados por créditos tributários. Entre esses projetos poderão ser enquadrados os de produção de combustíveis renováveis, tais como etanol de segunda geração, biometano, SAF e outros.

Além disso, o empresariado tem muito a contribuir para essa agenda. Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), que passou a liderar o Business 20, fórum empresarial dos países do Grupo dos 20, acreditamos em medidas práticas.

Não faz sentido que o Brasil ou outros países em estágio menos avançado na transição energética repliquem as soluções adotadas no hemisfério Norte, até porque são distintos os fatores geradores de emissão de gases do efeito estufa. As soluções podem ser híbridas. Não há bala de prata.

Neste contexto, o Brasil tem tudo para ser protagonista em um processo de descarbonização global. Temos história, recursos humanos, processos testados e aprovados e experiências bem-sucedidas na prática.

Definitivamente, podemos servir de exemplo, inspirando países emergentes e, inclusive, exportando tecnologia.

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