Ricardo Mussa

Engenheiro de produção, é CEO na Raízen desde 2020 e lidera a força-tarefa de transição energética e clima do B20 Brasil

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Descrição de chapéu COP28 mudança climática

Enfrentar mudança climática exige ações concretas, múltiplas e coordenadas

Brasil tem plenas condições de combater efeitos climáticos severos como os das inundações no RS

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Os efeitos devastadores das enchentes que abalaram o Rio Grande do Sul são impactantes.

A prioridade, sem dúvida, é cuidar das pessoas e mobilizar esforços para restaurar um mínimo de normalidade.

Mas seria um erro encarar um acontecimento de tamanha gravidade como um fato isolado.

Basta recordar das chuvas em São Sebastião (SP), onde o volume de precipitação chegou a 680 milímetros em apenas seis horas em 2023. Ou das cheias que abalaram mais de 600 mil brasileiros no sul da Bahia e no norte de Minas Gerais em 2021.

Ubaíra (BA), atingida por fortes chuvas no final de dezembro de 2021 - Fernando Vivas/GOVBA


É preciso que todos, inclusive os que ainda não despertaram para a gravidade dos acontecimentos, tirem aprendizados.

E o primeiro de todos: aquecimento global é um fato.

Segundo o Copernicus, serviço da União Europeia dedicado a estudar as alterações climáticas, o ano de 2024 teve o janeiro mais quente desde 1940. O mesmo serviço já havia informado que a temperatura média da superfície dos oceanos atingira em 2023 o nível mais alto de todos os tempos.

Tudo isso pode funcionar como gatilho para eventos climáticos extremos. Das torrentes brutais na Líbia aos apavorantes incêndios florestais no Chile, passando pelas inundações que deixaram centenas de milhares de desabrigados no Quênia, na Tanzânia e no Burundi.

Alagamento em bairro de Bujumbura, capital do Burundi - Tchandrou Nitanga - 19.abr.24/AFP


Outro episódio recente, sem proporções humanitárias tão graves, mas bastante emblemático, aconteceu nos Estados Unidos –maior emissor histórico de gases de efeito estufa. A cidade de Nova York, sede da Organização das Nações Unidas, ficou praticamente submersa naquele que foi o dia de setembro mais chuvoso já registrado no aeroporto JFK, segundo o National Weather Service.

Rua alagada em Manhattan (Nova York), perto da ponte Williamsburg, em setembro de 2023 - Andrew Kelly - 29.set.23/Reuters

A segunda lição: o enfrentamento não pode ser adiado.

Na COP28, em Dubai, depois de muita relutância, líderes globais criaram um fundo voltado para perdas e danos causados pelas alterações climáticas. O compromisso anual é de US$ 100 bilhões.

No Brasil, o Congresso está atento. Tramita o projeto de lei 4.129/2021, que estabelece medidas econômicas e socioambientais e visa orientar planos estaduais e municipais.

Como tenho procurado mostrar neste espaço, mitigar o impacto das alterações climáticas passa por acelerar a transição para uma matriz energética com menos carbono –e as energias renováveis têm protagonismo nesse processo.

Mas é válido olhar para experiências como as "nature-based solutions", as soluções da própria natureza.

Entre as opções estão o plantio de árvores para proteger os edifícios do calor e de manguezais para conter tempestades nas regiões costeiras.

E uma ideia excelente são as "cidades esponja". Na China, o arquiteto Kongjian Yu, professor da Universidade de Pequim, supervisionou um programa que já implantou cerca de 650 parques urbanos paisagísticos capazes de escoar a água das inundações repentinas em pelo menos 250 municípios. Também paisagista, Yu disse ao The New York Times que é preciso dissipar a força destrutiva das águas das enchentes, desacelerá-las e dar espaço para que se espalhem.

É uma das alternativas. Nosso papel é debater soluções eficientes e não excludentes. É certo que o problema é multilateral e as responsabilidades são conjuntas, mas podemos começar, no nosso quintal, com um conjunto de ações estruturadas, concretas, múltiplas e coordenadas.

O Brasil tem todas as condições de liderar esse processo, em nível regional e global. Precisamos ser propositivos e proativos.

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