Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

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Rodrigo Tavares

ESG: independência é a morte

Esta não será uma coluna sobre a eclosão do modelo; será, sobretudo, sobre o seu epílogo

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“Começo a ficar cansada de tanta propaganda sobre ESG”, bradou a minha esposa, ao receber um e-mail de uma instituição financeira. Ela não é única. Depois de quase 20 anos ocupando os espaços suburbanos do mercado financeiro brasileiro, ESG (sigla em inglês para práticas ambientais, sociais e de governança) arrebatou a Faria Lima no ano de 2020, tornando-se, desde maio, um assunto mais pesquisado no Google do que governador João Doria ou, ironicamente, ministro Ricardo Salles.

Esta coluna, que se inicia hoje por iniciativa da Folha (obrigado pelo convite), mirará as conexões entre economia, finanças e sustentabilidade. Ou como os US$ 90 trilhões geridos pelo mercado financeiro global, mais do que o PIB combinado de todos os países do mundo, podem ser investidos tendo em conta a maximização de retornos financeiros, a preservação ambiental, o desenvolvimento das sociedades e a boa gestão corporativa.

Parece romantismo pueril, um novo Alonso Quijano em peregrinação idealista pelo mercado de capitais, sem a visão realista de Sancho Pança. Mas não é. As finanças ESG já correspondem a cerca de um terço do mercado. E os dados mais atualizados são de 2018.

Mas esta não será uma coluna sobre a eclosão de ESG. Será, sobretudo, sobre o seu epílogo. A integração de dados ESG em estratégias de investimento deverá crescer de forma tão significativa e tornar-se tão universal que ESG deixará de chamar a atenção.

O sinal mais distinto do seu sucesso será a conquista do seu anonimato. Só conheceremos o valor de ESG quando for liquidificado com todos os outros ingredientes, principalmente financeiros, que compõem as decisões de investimentos. Se pleitear a independência, ESG morre.

Que jornal noticia hoje que determinado banco usa dados de agências de classificação de risco? Nenhum, não é novidade. Mas essas agências só foram criadas no início do século 20, quase cinco séculos após a gênese da banca moderna. Qual a gestora que se envaidece de analisar o Ebitda das investidas? Nenhuma, é uma prática universal, mas Ebitda é um conceito inventado apenas na década de 70. O que um dia foi notícia tornou-se banalidade.

Até que seja agendado o funeral de ESG, esta coluna será norteada por alguns princípios. Em primeiro lugar, não fará ativismo. As finanças sustentáveis não são uma causa, são um ramalhete de disciplinas de investimento –todas cerebrais, matemáticas, rigorosas.

A sua aplicação é mais complexa do que aparenta e demanda primor de artesão. Se dados, práticas e políticas ESG não forem devidamente customizadas a cada instituição financeira e se cálculos não forem devidamente realizados, ESG deixa de ter pertinência. Em segundo lugar, a opinião aqui publicada tentará não se deixar contagiar pela recente estridência jornalística no Brasil em torno de ESG, muito focada no lançamento de novos produtos. Ao invés, farejaremos novas tendência globais, estudos académicos, práticas verdadeiramente inovadoras.

Testaremos premissas, faremos perguntas, daremos destaque ao que é precursor. Finalmente, a coluna será inoculada com referências internacionais. Não é porque eu creio que o Brasil só pode ser aluno e não professor, mas porque acredito que o amadurecimento do mercado ESG no Brasil será acelerado se atiçarmos permutas com terceiros. A próxima coluna, em 15 dias, mostrará precisamente isso.

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