Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na NOVA School of Business and Economics, em Portugal. Nomeado Young Global Leader pelo Fórum Econômico Mundial, em 2017

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Rodrigo Tavares
Descrição de chapéu astronomia

Milionário americano envia conhecimento amazônico para a Lua

Arquivos ficarão em galerias subterrâneas na Suíça e depois irão à Lua

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Em 1904, Machado de Assis escreveu, em "Esaú e Jacó", que "a Lua é um astro que nos acompanha desde a nossa origem. Ela é uma testemunha da nossa história". Não poderia estar mais correto. Em fevereiro de 2024, uma nave espacial dos EUA aterrissou na Lua pela primeira vez desde 1972, uma iniciativa da empresa privada Intuitive Machines. Lá dentro estava "Esaú e Jacó".

E muito mais. A Fundação Arch Mission, comandada pelo empreendedor americano Nova Spivack, de 54 anos, gravou, em um disco rígido de níquel puro criado para durar milhões de anos, 100 gigabytes, compactados em 30 milhões de páginas. O disco foi deixado a cerca de 300 quilômetros do polo sul lunar.

À coluna Spivack afirma que o objetivo é preservar o conhecimento humano. O disco inclui a história, a literatura, as línguas, as ciências, as artes, a música, o cinema, as filosofias e as religiões da humanidade. Contém uma cópia completa da Wikipedia em inglês, com 6 milhões de artigos, 70 mil livros reunidos pelo Projeto Gutenberg, um repositório de 7.000 línguas e uma coletânea musical de 10 mil apresentações vocais do Projeto Earthling, do Instituto Seti.

O disco abriga também uma seleção do conteúdo do Internet Archive, uma biblioteca sem fins lucrativos com milhões de livros, filmes, softwares, músicas e sites gratuitos. Além disso, a fundação adicionou os seus próprios arquivos em arte (The Arch Lunar Art Archive), sobre definições e conceitos (The Arch Mission Primer), em literatura (The Arch Mission Private Library) e em religiões e espiritualidade (The Arch Mission Vaults).

Além de 14 livros de Machado de Assis, o disco contém escritos de José de Alencar, José de Anchieta e Lima Barreto, entre outros quase 400 autores de língua portuguesa, como escrevi no jornal português Expresso. E "informações sobre os povos indígenas do Brasil", afirma Spivack por email.

Edição de 1904 de 'Esaú e Jacó' - Jefferson Coppola/Folhapress

A Fundação Arch Mission também tem a missão de preservar conhecimentos amazônicos, salienta Spivack. Estão sendo coletados, registrados e arquivados "tradições orais e narrativas, medicina tradicional, conhecimento sobre ecossistemas aquáticos, conhecimento sobre a diversidade linguística, manejo florestal, entre outros", afirma à coluna Lucas Lima, estudante de biblioteconomia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte que auxilia a fundação. O projeto, iniciado em 2019, recebeu o nome de Amazon Arch (Arca Amazônica).

As fontes são as bases de dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), do Ministério do Meio Ambiente e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). São coletados documentos como livros, artigos e imagens em formato PDF que estão sendo salvos em discos inquebrantáveis.

O próximo passo é guardar a Arca Amazônica em um conjunto de galerias subterrâneas localizadas na cidade suíça de Hagerbach. É lá que a Fundação Arch Mission lançou este ano o projeto The Global Knowledge Vault (Cofre do Conhecimento Global), que reúne backups do conhecimento da humanidade. Posteriormente, a Arca Amazônica será enviada para a Lua, em 2024 ou 2025.

Para Lucas, a "Lua e outros corpos celestes tornam-se ambientes atrativos para preservar dados se o objetivo for recuperá-los em um futuro distante", visto que "apenas alguns poucos fenômenos climáticos, como a radiação lunar," podem ser um fator de deterioração do suporte de informação.

O objetivo de Nova Spivack é garantir que avanços civilizacionais nunca se percam, assumindo que a vida na Terra poderá um dia entrar em colapso.

Sendo assim, não deveríamos concentrar os nossos esforços na prevenção de tal catástrofe em vez de investirmos recursos no arquivamento do conhecimento da humanidade para a posteridade?

Lua vista de Bancoc, na Tailândia - Athit Perawongmetha/Reuters

Nova defende-se: "Há muitas outras pessoas a trabalhar para evitar o colapso, mas ninguém está a trabalhar no arquivamento da nossa civilização –por isso sentimos que deveríamos pelo menos fazer essa parte".

A idealização é uma das características definidoras de "O Guarani", de José de Alencar, outra das obras que Nova Spivack enviou para a Lua.

Será que há mesmo muitas outras pessoas a trabalhar para evitar o colapso?

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