Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Existe diálogo com o PT?

Com o PT, existe diálogo; com a extrema direita, só existe cloroquina e a morte

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Espero autocrítica do PT assim como Estragon e Vladimir esperam por Godot. Não há a chance de o partido admitir seus muitos erros na condução da economia, não importa quão claras sejam as evidências. Pior ainda é a mania dos seus quadros de reinventar a história.

O artigo de Guido Mantega desta semana é uma obra de ficção. O roteiro é sempre o mesmo: as boas políticas foram sempre feitas única e exclusivamente pelo partido, sem nenhuma participação de aliados, todas as crises foram culpa de eventos externos e forças ocultas, evidências contrárias são convenientemente esquecidas, a palavra corrupção nunca é discutida, e dados são distorcidos ou truncados.

Numa coisa, no entanto, o segundo pior gestor econômico da nossa história democrática está correto: qualquer chance de recuperação depende de a extrema direita perder as próximas eleições.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante entrevista coletiva em Brasília - Lucio Tavora - 8.out.2021/Xinhua

Mas, mesmo sabendo que publicamente o partido vai continuar repetindo a ladainha de que fez tudo o certo o tempo todo, podemos ter um novo governo Lula decente. Por que pode um partido com um histórico de soberba e uma ideologia presa no desenvolvimentismo de quinta categoria fazer algo bom para o país? Por quatro razões: estrutura partidária, o sucesso do primeiro governo Lula, dificuldade em capturar muitas das instituições não partidárias e renovação dos quadros do partido.

Se Lula chegar ao poder, vai pegar um país polarizado e dividido, em uma crise econômica gigantesca. Mas há luz no fim do túnel. A polarização tornará a margem de manobra política do partido estreita. Não vai ser o governo da megalomania, dos recursos infinitos jogados pelo ralo em projetos estapafúrdios e da transferência de renda dos pobres para empresários, pelo simples fato de que não haverá dinheiro para isso.

A mesma estrutura que permitiu o Programa de Aceleração da Corrupção (digo, do Crescimento) pode servir como primeira linha de defesa contra planos estapafúrdios e ser útil para agilizar um novo programa nacional de vacinação. Afinal, vamos precisar de novas rodadas de vacina.

Será que o PT terá capacidade de montar uma força-tarefa para vacinar com quintas doses o maior número possível de brasileiros rapidamente? Essa é a vantagem de um partido político estabelecido. Há capacidade de escalar políticas públicas rapidamente.

O próximo presidente tem a oportunidade de salvar os brasileiros. Literalmente. O PT não é a barbárie que nos governa. Mas vai ser preciso mais que uma "Carta ao Povo Brasileiro" e uma série de promessas vazias, sem detalhes de implementação, para um verdadeiro programa de desenvolvimento socioeconômico.

Com o PT, existe diálogo; com a extrema direita, só existe cloroquina e a morte.

O PT já colocou gente competente para cuidar da economia. A extrema direita tem economistas tão desqualificados que publicam em jornais predatórios, no qual se paga para publicar qualquer esparrela, inventam modelos epidemiológicos e criam conceitos teratológicos, como PIB privado, qualidade do PIB e outras asneiras, que nem um aluno de primeiro ano de graduação engoliria.

Existiam três PTs. O pragmático, o ideológico e o que incentivou a corrupção. O ideológico nunca vai mudar. O que incentivou a corrupção não vai fazer mea-culpa. O ideal seria uma terceira via, mas hoje Lula lidera as pesquisas.

Veremos o PT pragmático de novo? Pelo bem de todos os brasileiros, espero que sim.

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