Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

Quem tem medo de Lula no poder?

Reeleição traz riscos, mas petista pode fazer governo fiscalmente responsável

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Que o PT gerenciou mal a economia brasileira, não se discute. Que a corrupção parece ter corrida solta, também não. Ainda assim, é para ter medo de um novo governo Lula? Em comparação à reeleição do atual presidente, a resposta é não. E com convicção.

O tal "mercado" já se tranquilizou com a liderança do ex-presidente nas pesquisas (um dia vamos parar de usar termos mal definidos, como mercado, neoliberalismo e outros, mas até lá, sigamos). A cada política absurda do superministério da economia, investidores se convencem que não dá para ficar pior.

Obviamente, a volta de Lula traz riscos. Muitos dos seus economistas estão presos na década de 70, com ideias retrógradas que, no fundo, só servem para transferir renda dos pobres para ricos (haja bolsa empresário). Mas e o risco de corrupção? Esse, contraintuitivamente, preocupa menos.

Ex-presidente Lula em evento pré-campanha no Rio de Janeiro - Ricardo Moraes - 7.jul.2022/Reuters

Corrupção é jogo dinâmico, que requer contínuas adaptações de agentes públicos e privados. Requer também ofuscação; ações escondidas ou tão complicadas para que seja impossível rastreá-las. O único benefício da polarização política é tornar muito difícil para membros do terceiro governo Lula montarem esquemas robustos de corrupção. Cada burocrata que apoia o atual governo vai passar um pente fino nas decisões do governo. Além disso, mídia e a sociedade civil também terão incentivos muito maiores para fiscalizar o Planalto. "Fool me once, shame on you; fool me twice, shame on me", como dizem os americanos (se me engana uma vez, a culpa é sua, se me engana duas, a culpa é minha).

Sabemos que Lula pode fazer um governo fiscalmente responsável. Das quatro gestões petistas, a primeira foi ótima, combinando reformas, a melhor politica social brasileira da historia, o Bolsa Família, e estabilidade macroeconômica. A megalomania petista começou no segundo governo Lula. Mas tal descontrole seria praticamente impossível, já que o superministro da Economia vai entregar a economia destruída e contas públicas em frangalhos.

Isso quer dizer um governo petista sem riscos? Obviamente, não. Políticos brasileiros são imensamente criativos em buscar novos métodos de transferir recursos públicos para bolsos privados; veremos campeãs nacionais, a revanche? Mas é provável a reversão da destruição institucional causada por esse governo —como o desmantelamento das agências de fiscalização ambiental; políticas sérias de amenização dos danos da pandemia, em vez de negacionismo tosco, e mais a normalização das relações internacionais; hoje o Brasil é um pária mundial. Esses já seriam motivos para nos sentirmos aliviados.

Para mitigar ainda mais riscos, precisaríamos de plano de governo detalhado, com propostas concretas. Mas, no Brasil, é normal que planos de governo não tenham qualquer substância. Isso é impensável no resto do mundo, para o bem e para o mal; o referendo para o Brexit aconteceu porque era proposta de campanha de David Cameron. Ele acabou renunciando, pois defendia a permanência do Reino Unido na União Europeia. Teria sido muito mais fácil ignorar a promessa e nunca colocar o referendo na mesa, mas isso é inaceitável em democracias maduras.

Lula, seu plano de governo vai vir cheio de banalidades ou é só a busca do poder pelo poder? O PT planeja continuar com políticas da década de 70, ou vai dar um salto de ideias? Agradecemos não receber respostas vazias para perguntas que realmente importam.

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