Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan

A China vai devagar. Porque quer

Política de Covid zero e momento de rebalanceamento da economia fazem com que autoridades não evitem desaceleração

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A China não está em recessão, mas o crescimento de 2022 deverá ser de apenas 3%, bem abaixo da média do que se esperava. Isso é algo próximo da contribuição da urbanização para o crescimento do país, onde 500 milhões de pessoas vivem no campo e a produtividade triplica no momento em que elas mudam para a cidade (ou a cidade vem a elas, pela urbanização de áreas rurais).

Ao contrário do resto do mundo, onde os juros continuam a subir para conter a inflação, o Banco do Povo (o banco central chinês) reduziu as taxas de juros essa semana. O setor de construção civil está em crise, os bancos estão restringindo empréstimos e milhares de pessoas estão dando calotes coletivos em empresas imobiliárias.

Ainda assim, não há riscos para a economia mundial. O crescimento chinês é sempre assimétrico; mesmo nas épocas de alto crescimento, problemas locais eram comuns.

O que há de novo é que a desaceleração é algo que as autoridades não pretendem evitar, por dois motivos:

O primeiro é a preocupação com a política de covid zero.

O segundo, mais relevante, é a desalavancagem pelo rebalanceamento da economia, de manufaturas para serviços, em algumas partes do país.

Ponte estaiada em meio à paisagem de montanhas e vales
Construção da ponte do rio Longli, na província de Guizhou, sudoeste da China. A ponte tem 1.260 metros de comprimento. - Yang Wenbin/Xinhua

Enquanto no passado, como em 2009 e 2015, as autoridades chinesas reagiam a sinais de crise com pacotes econômicos robustos, desde 2020 há cautela em ajudar as empresas em dificuldade, sejam públicas ou privadas.

E isso, mesmo em um ano politicamente relevante, quando o presidente Xi Jinping deve ser reconduzido a um terceiro mandato.

O que explica essa cautela? O reconhecimento de que os motores de crescimento da China serão diferentes e, portanto, as soluções não podem ser as mesmas do passado. É comum que analistas comparem os indicadores da dívida chinesa com o resto do mundo e concluam que são muito altos.

Por exemplo, o total da dívida pública e privada da China, em relação ao PIB, deve terminar o ano em 275% (no Brasil é de cerca de 160% do PIB). Mas o normal é que em países que crescem muito rápido, os indicadores de dívida cresçam muito mais que o PIB, por um bom tempo.

Enquanto se industrializava fortemente, a China chegou a crescer mais de 10% ao ano, e mesmo antes da pandemia, se esperava 6% de crescimento. Mas hoje está claro que cidades como Xangai e Pequim estão se desindustrializando rapidamente. E não há mais espaço nelas para o crescimento residencial e comercial desenfreado de outrora. O setor de construção civil, que é cerca de 11% do PIB, se concentra agora em outras cidades em províncias menos conhecidas, como Ningxia, Shanxi e Jiangxi.

Novas fronteiras para o desenvolvimento econômico apresentam novos desafios. Para segurar o endividamento privado, incluindo-se as incorporadoras, o governo está monitorando, mas sem grande auxílio, uma aterrissagem do setor (e do resto da economia), já que o modelo de crescimento nas grandes cidades está se movendo para o setor de serviços.

Enquanto parte do país ainda dá o salto para renda média, não há preocupação em deixar as empresas marginalmente lucrativas lutarem pela sobrevivência. É, de certa forma, a "destruição criativa" propagada por Schumpeter, famoso economista do início do século 20.

Pode ser que as autoridades mudem de ideia se houver muita destruição e pouca criatividade. Mas, até lá, a China não vai ser o grande motor do mundo; mas só por enquanto.

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