Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

Desobedecer para inovar

Brasil recebe diretor do MIT que associa inovação à desobediência pacífica

Nesta semana, o Brasil recebe a visita de Joi Ito, diretor do MIT Media Lab (o laboratório de mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Trata-se de uma das instituições acadêmicas mais prestigiosas do planeta, especialmente por seu trabalho notável na área de inovação.

A biografia de Ito diz muito sobre os requisitos para inovar. Ele foi um dos pioneiros da internet no Japão. Criou um dos primeiros provedores naquele país instalando equipamentos no banheiro da sua casa. 

Rapidamente tornou-se investidor em empresas de tecnologia, apostando cedo no Twitter e no Kickstarter. Quando foi escolhido para dirigir o Media Lab, várias sobrancelhas se arquearam: ele não tinha sequer diploma. Como alguém com “superior incompleto” poderia dirigir uma das principais instituições acadêmicas do mundo?, perguntavam os céticos.

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Prédio do Media Lab, no MIT, em Massachusetts (EUA) - Andy Ryan/MIT/Bloomberg

Essa ausência nunca foi problema para ele. Sem diploma, ele integrou o conselho de administração da Sony e do jornal The New York Times e desde 2011 só aumentou a reputação do Media Lab. 

Entre outras coisas, criou o curso de Mindfulness (“Autoconhecimento”) para inovadores tecnológicos, que ensina pessoalmente com o monge Priyadarshi (é um dos cursos mais disputados do MIT). 

Só em 2018 ele finalmente obteve seu primeiro diploma superior, com a tese que escreveu chamada “A Prática da Mudança” (goo.gl/kCBFgk).

Entre os princípios que Ito põe em prática na vida e no Media Lab está a desobediência. Ele entende que a inovação só é possível através da quebra constante de paradigmas. Ele gosta sempre de 
dizer: “Ninguém ganha um Prêmio Nobel fazendo o que outras pessoas dizem para você fazer”.

Ito também lembra que o movimento dos direitos civis nos EUA não teria ocorrido sem desobediência pacífica. Nem a independência da Índia, ou o Boston Tea Party, que levou à independência dos Estados Unidos.

Vale notar a palavra “pacífica” na conceituação de Joi, que é um requisito para que essa prática seja benéfica para a sociedade. 

O conceito é tão importante que o MIT criou o Disobedience Award, um prêmio de US$ 250 mil (R$ 924 mil)entregue anualmente aos indisciplinados mais construtivos do planeta. Os vencedores deste ano serão anunciados no próximo dia 30.  

Ito tem uma longa história com o Brasil. O MIT Media Lab tem recebido um fluxo constante de pesquisadores brasileiros e desenvolvido projetos sobre o país. 

Um exemplo é Paulo Rogério, criador do Vale do Dendê em Salvador, uma aceleradora que apoia inovadores que se preocupam com impacto social e diversidade, trabalhando com mais de 30 startups.

Outro é este colunista.

Atualmente é comum ver políticos repetindo o mantra de que querem “promover a inovação”. No entanto, para isso, é necessário promover todo um ecossistema de criatividade e liberdade, que mistura colaboração com competição, o que, por sua vez, leva à inovação. 

O Brasil é especialista em falar de inovação na teoria. Mas, como diz outra frase que Ito costuma citar: “Na teoria, teoria e prática são iguais. Na prática, não”.

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