Ronaldo Lemos

Advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro.

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Ronaldo Lemos

A escola home office não deu certo

Pais e mães das classes mais ricas têm relatado pesadelo com ensino online

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Em meados de abril, o ex-presidente-executivo do Google Eric Schmidt descreveu o fato de milhões de crianças estarem fazendo aulas online durante a pandemia como “um experimento massivo de aprendizado remoto”. Bem, esse experimento deu errado.

Pergunte a qualquer pai ou mãe das classes mais ricas do Brasil como tem sido sua experiência com crianças em casa tentando aprender pelo computador e você ouvirá relatos próximos a um pesadelo.

Mais do que isso, a ideia da escola “home office” é um vetor de aprofundamento de desigualdades. A pandemia evidenciou como o acesso à internet é mal distribuído no Brasil.

Empresas estabelecidas estão até agora com dificuldade de assegurar conexão, hardware e software necessários para que seus funcionários trabalhem de casa de forma adequada.

No plano da escola, a situação é ainda mais dramática. Achar que a educação pode ser massificada online, com a atual escassez de conectividade e acesso a computadores e programas pela maioria absoluta da população no país, é devaneio de solucionista tecnológico.

O fardo que a educação online —que no Brasil vem sendo praticada só pelas escolas mais ricas— impõe mesmo assim para pais, alunos e professores é insustentável com os modelos atuais.

O buraco no país é mais embaixo. Por exemplo, não há sequer banda larga de qualidade na maioria das escolas públicas. Essa é uma luta que vem sendo travada há anos e que até agora não se concretizou.

Se nem na escola pública há internet de qualidade, o que esperar então da qualidade de conexão na casa das pessoas?

Além disso, o que fazer com alunos especiais, com deficiência, autismo e outras condições? Na esfera doméstica, esses estudantes jamais terão o suporte de que precisam.

Em outras palavras, o “experimento massivo” que Schmidt mencionou tem uma conclusão: como política pública, é preciso investir pesadamente no modelo de escola que temos hoje. E guiar as inovações de forma incremental a partir dele.

No Brasil, não será o Estado que irá liderar a transformação digital da escola, como vem propondo o governador de Nova York, Andrew Cuomo. Mesmo lá a ambição tem sido recebida com ceticismo.

Já para o setor privado, essa é uma oportunidade enorme. Se o experimento massivo da educação online falhou, é possível agora mensurar o que deu errado. Essa falha é um chamado para desenvolver e aperfeiçoar tecnologias que funcionem de verdade e possam eventualmente ser universalizadas.

Além disso, se no ensino fundamental e médio a educação online é um desafio (exemplificado pelo suplício de ver crianças de sete anos tentando aprender online todos os dias
por Zoom), no ensino superior essa possibilidade é concreta. No ensino superior é, sim, possível cogitar modelos eficazes online massificados, ou de educação híbrida.

Em suma, não é o caso de desistir da educação remota, mas de entender as situações em que ela é adequada. Até isso acontecer, como política pública, o importante é investir na escola tradicional e começar por, no mínimo, levar banda larga de qualidade para TODAS as escolas públicas do país.

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