Em recente evento sobre futebol, um repórter veio me dizer que estava tentando falar com um jogador da seleção brasileira, dos poucos atuando no Brasil, mas em vão. Entre ele e o craque havia uma barreira de secretários, agentes e aspones —“o staff do jogador”. Sugeri-lhe mandar o craque lamber sabão e entrevistar a turma do vôlei ou do basquete, muito mais acessível e com grandes histórias para contar.
Antes dos carrões, das mansões na Barra e dos contratos bilionários, os jogadores de futebol circulavam pelas ruas com a maior naturalidade e podiam até ser levados a um cafezinho no botequim —e eram deuses como Zizinho, Ademir Menezes, Castilho, Bellini, Rubens. Um dia, por volta de 1960, os moradores de certo conjunto de edifícios do Leblon chegaram à janela e assistiram a uma incrível pelada no campinho de terra do pátio interno. Pois adivinhe quem jogava: Nilton Santos, Garrincha, Didi, o goleiro Manga, talvez o jovem Amarildo e outros, estrelas do Botafogo e da seleção.
Como podia? Simples. Os prédios, junto ao Jardim de Alah, formavam o Condomínio dos Jornalistas, construído pelo IAPC e com apartamentos vendidos a leite de pato a jornalistas e assemelhados. Moravam ali nomes como Wilson Figueiredo, Mauritônio Meira, Augustinho (irmão de Nelson) Rodrigues, o crítico de cinema Alex Viany, o humorista Dom Rossé Cavaca, o teatrólogo Oduvaldo Vianna (pai) —e Sandro Moreyra, repórter do Jornal do Brasil e botafoguense praticante.
Por artes de Sandro, Nilton Santos também comprou um apartamento no Jornalistas. E, com isso, numa tarde de domingo sem jogo pelo campeonato carioca, Sandro e Nilton armaram uma pelada histórica reunindo vários campeões do mundo, os rapazes do prédio e os meninos pobres da vizinha Cruzada São Sebastião.
Só não me pergunte quem ganhou, se houve gols e quem marcou. Não há registro.
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