Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Conspiração de silêncio

O único assunto sobre o qual Lula e Bolsonaro concordam em discordar

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É por isso que adoro romances de espionagem. Partem de tramas tão intrincadas que, já na segunda página, nos esquecemos de como elas são improváveis. O inglês John Le Carré é o mestre do gênero. Ou era —porque, agora, temos Lula e Jair Bolsonaro. 

Há dias, Adélio Bispo de Oliveira, autor da facada no candidato Bolsonaro em Juiz de Fora, em 2018, foi absolvido pelo Código de Processo Penal por ser inimputável, portador de uma doença mental. Ficará num presídio de segurança máxima, mas isso só reforçou a dúvida do ex-presidente Lula sobre se houve mesmo a facada. “Não aparece sangue...”, insinuou ele, numa entrevista.  

Adélio Bispo de Oliveira durante transferência para presídio em Campo Grande (MT)
Adélio Bispo de Oliveira durante transferência para presídio em Campo Grande (MT) - Ricardo Moraes - 8.set.18/Reuters

Para Lula, o golpe em Bolsonaro deve ter sido feito com uma faca retrátil, de teatro, daí a falta de sangue. Para tornar a história plausível, armou-se previamente uma conspiração envolvendo o povo de Juiz de Fora, a equipe do hospital local, os que transportaram Bolsonaro para São Paulo, o pessoal do Albert Einstein que simulou operá-lo e os funcionários dos laboratórios que fingiram analisar suas tripas. Quem seria o cérebro por trás disso? Milhares de pessoas tomaram parte na farsa e, incrível, até hoje ninguém quebrou o pacto de silêncio. 

O presidente Bolsonaro, por sua vez, também não admite a sentença. Para ele, Bispo foi apenas a mão que lhe cravou a faca. Por trás dela, haveria uma rede envolvendo o PT, o PC do B, o PSOL, o centrão, os ideólogos, sindicalistas, professores, jornalistas, cientistas de humanas, atores, cantores, índios, ecologistas, pacifistas, gays, lésbicas, praticantes de sexo urinário e idiotas em geral. Todos se articularam para que um ativista contratado o esfaqueasse entre milhares de pessoas e fosse preso ou linchado. E, para disfarçar, confiaram a tarefa a um —este, sim, reconhecidamente— idiota. 

Tanto para Lula quanto para Bolsonaro, os psiquiatras que examinaram Bispo também devem estar na conspiração. E louco é o Bispo.

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