Leio na Folha que a ponte aérea Rio-SP está fazendo 60 anos. Significa que, quando viajei nela pela primeira vez, em 1977, com grande atraso, ela tinha 18. O atraso se explica —passara a vida no Rio, morara na Europa e fora quatro ou cinco vezes a Nova York, mas nunca a São Paulo. Em compensação, à primeira vez logo se seguiram outras, até que fui morar lá, em janeiro de 1979 —e onde fiquei até dezembro de 1995, quando voltei para o Rio.
Nesses 16 anos em São Paulo, trabalhando em quatro revistas, dois jornais e uma agência de propaganda —não ao mesmo tempo—, vim ao Rio uma média de duas vezes por mês, quase sempre a trabalho. Duas vezes por mês são 24 vezes por ano. Como foram 16 anos, multiplicando 24x16 teremos 384 viagens. Ao ver este número, tomo um susto. E só então me lembro de que, em 1995, quando comuniquei a amigos do Rio que ia voltar, um deles estranhou: "Mas, como, se você nunca saiu?".
Considerando-se que todas as viagens eram de ida e volta, temos que multiplicar por dois para saber o número de voos —768! Não é possível, digo eu. Mas foi. E era uma delícia. Não se escolhiam companhias, voos ou lugares. Era chegar, comprar a passagem, embarcar no primeiro avião e, já dentro dele, procurar um assento --daí ser uma "ponte aérea". E funcionava bem. Às 9 da noite de 31 de dezembro de 1980, eu estava acabando de escrever uma reportagem na redação da Playboy, na rua do Curtume, em São Paulo, e com um encontro marcado no Réveillon do morro da Urca, no Rio, à meia-noite. Pois cheguei a tempo.
Naqueles 768 voos, atravessei duas gerações de aviões, comandantes e aeromoças. Peguei voos ótimos e péssimos, sofri duas arremetidas e viajei ao lado de praticamente todo mundo.
Um deles, Pelé. Chegou atrasado, saltou por cima de mim e sentou-se à janela, já dormindo e roncando. Só acordou no Rio.
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