Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

As mulheres de Patricio

Ele era absurdamente talentoso e levava a plateia à histeria de tanto rir

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O ator, cantor, cartunista, figurinista e transformista Patricio Bisso morreu em Buenos Aires nesta segunda (14), aos 62 anos. Em novembro de 1985, subi ao 8º andar do Edifício Copan, no centro de São Paulo, para entrevistá-lo. Era uma reportagem de capa para a revista Veja em São Paulo. Patricio, 28, tornara-se uma celebridade da cidade, atraindo 400 pessoas todas as noites ao Sesc Pompeia para seu show “Louca pelo Saxofone” e as levando quase à histeria de tanto rir.

Em uma hora e meia no palco, trocava 25 vezes de roupa, numa maratona de tailleurs, tomara-que-caias, rabos-de- peixe, saias plissadas, perucas, colares e anáguas, tudo de sua criação e tudo enquanto cantava 
—em português, espanhol, inglês, francês e italiano— e dançava. Uma troca de roupa a cada três minutos. Quase no fim, surgia vestido de nada menos que árvore de Natal. Era absurdamente talentoso.

Nos 30 m² de seu apartamento, divididos em “quarto” e “sala” por um biombo vergado de fotos de artistas antigas, cabiam 2.000 livros ilustrados sobre cinema, um Everest de revistas, araras abarrotadas de vestidos e mais maquiagem do que Elke Maravilha teria em toda a sua carreira. Dali saíam as mulheres que ele representava e as que queria representar, como Betty Boop e Luluzinha.

Elas eram mulheres famosas de 30 ou 40 anos antes e ainda familiares à plateia, como Celly Campello, Dorothy Lamour, Rita Pavone, Emilinha Borba, Wanderleia e Evita Perón. Ele as ridicularizava? “Não”, ele me respondeu. “Elas já eram caricaturas. O que eu faço é a caricatura da caricatura”. 

Mas a maior criação de Patricio era a sexóloga Olga del Volga, inspirada em Marta Suplicy —uma Marta pré-PT e pré-prefeita. E, como Patricio sabia fazer bem tudo que suas personagens faziam, talvez Olga fosse melhor sexóloga do que Marta. Uma de suas máximas: “Orgasmo é como ônibus. Você perde um e já vem outro”.

Capa de revista Veja São Paulo com o artista Patrício Bisso vestido como 8 estereótipos de mulheres diferentes
Capa de revista Veja em São Paulo de 1985 com a reportagem "As 1.000 mulheres de Patrício Bisso" - Reprodução

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.