Domingo último (16), ao refutar a história de que a morte de um astro do cinema representa o “fim de uma era”, incluí entre os atores ainda vivos Hugh O’Brian, um nome dos anos 50 pela série de TV sobre Wyatt Earp, herói do famoso tiroteio do Curral OK em 1881. Um leitor me corrigiu: O’Brian morreu em 2016, aos 91 anos. Fui conferir e era isso mesmo. Sua morte me escapou na época e me levou a dar-lhe essa sobrevida. Mas, sabendo de sua carreira e de uma triste história sobre ela, acho que fiz bem. É a prova de que, pelo menos no Brasil, Hugh O’Brian não foi esquecido.
A rigor, O’Brian só existiu nas seis temporadas, 1955-61, em que viveu Wyatt Earp na TV americana —no Brasil, a exibição começou em 1959. Eram episódios semanais de meia-hora, sóbrios, bem escritos, quase adultos, diferente dos outros faroestes da TV. O’Brian usava um chapéu preto de aba reta, colete acetinado e, sua marca como Wyatt Earp, um revólver com 30 cm de cano.
Quando a série acabou, O’Brian, que nunca tivera grande carreira, voltou a não tê-la e seu nome passou a ser usado em Hollywood para descrever a crueldade do sistema. Segundo a história, no passado, quando seu agente o oferecia a um produtor, este dizia: “Quem é Hugh O’Brian?”. Com o sucesso de Wyatt Earp, o produtor passou a exigir do agente: “Me consiga Hugh O’Brian!”. O’Brian deixou de ser Earp, mas, como seu tipo dera certo, o produtor pedia: “Me consiga um novo Hugh O’Brian!”. Até que, com os anos, o agente o oferecia e ouvia de novo: “Quem é Hugh O’Brian?”.
Era uma injustiça. Graças a O’Brian, Wyatt Earp ficou na memória de uma geração como um homem justo e ponderado, e não como o pistoleiro, ladrão de cavalos, trapaceiro, dono de bordéis e bígamo da vida real.
E que, ao contrário de O’Brian, também nunca usou o tal revólver, um Colt Buntline 45, e sequer passou de coadjuvante no tiroteio do Curral OK.
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