Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

Drama por trás da cortina

Todo o teatro está sofrendo, mas os encarregados das funções invisíveis não podem mais esperar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há quem prefira rodeios, shows de cantores sertanejos ou carreatas políticas. Para mim, poucas coisas engrandecem tanto a experiência humana quanto o teatro. É exercido por pessoas que, ao se despirem de si mesmas para encarnar outras, falam de cada um de nós na plateia. É assim desde os gregos, há mais de 2.000 anos, e continuará a ser pelos próximos 2.000. Só precisa ser ao vivo, sujeito tanto a um ator hesitar numa fala como a dizê-la de modo fabuloso, inigualável —e, nos dois casos, essa fala se dissipará assim que o ator acabar de dizê-la.

A maioria de nós, espectadores, só tem olhos para os atores. Por serem os únicos à vista, e como queremos acreditar no que estamos vendo, tendemos a achar que só eles importam. São raros os que, às vezes, despertamos dessa ilusão e nos lembramos de que, por trás do palco, há o diretor, os figurinistas, cenógrafos, iluminadores, diretores musicais, diretores de palco, produtores, visagistas, coreógrafos. Sem falar numa figura essencial, cuja inspiração permitiu começar tudo —o autor.

E daqueles outros sem os quais a cortina sequer abriria, e em quem nunca pensamos porque damos seu trabalho de barato —como se suas funções se realizassem sozinhas, sem a mão humana. São os técnicos de som, de luz e de vídeo, os contrarregras, costureiras, aderecistas, camareiras, assistentes de produção, cenotécnicos, bilheteiros, programadores visuais, assessores de imprensa.

Todos os profissionais do palco, inclusive as estrelas, se sentem operários do teatro. Mas, assim como aqui fora, os encarregados das funções invisíveis são os que mais sofrem e os que sofrem primeiro. Nos seis duros meses de teatros fechados pela pandemia, a maioria desses heróis anônimos está vivendo da caridade pública ou de amigos.

Que a Lei Aldir Blanc entre logo em vigência. Não é só o teatro —é a vida que já não pode esperar.

Amanda Acosta, como Carmen Miranda, e companhia no musical infantil “Carmen, a Grande Pequena Notável”
Amanda Acosta, como Carmen Miranda, e companhia no musical infantil 'Carmen, a Grande Pequena Notável' - Divulgação

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.