Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ruy Castro

No banco, fazendo 'prova de vida'

Sabe-se lá se o dedo que usou o teclado antes de você é um dedo de confiança?

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Há dias, fui ao banco para fazer "prova de vida". Nós, os beneficiários do INSS —aqueles a quem o INSS "beneficia" com uma merreca depois de uma vida de "contribuição"—, precisamos, periodicamente, provar que estamos vivos. A prova de vida consiste na apresentação de um documento. Já as horas na fila até chegar ao balcão são uma prova de sobrevida.

Em tempos de pandemia, a visita a uma agência bancária é uma roleta. A aventura começa na porta giratória, que é empurrada pelos clientes no mesmo lugar, e não se veem funcionários aspergindo-lhe álcool de minuto em minuto. O álcool nos é servido logo que entramos, eliminando talvez os Covids giratórios, mas, a seguir, não faltarão situações em que o bicho, à espreita, só espera um cochilo nosso para agir.

O balcão, por exemplo, é aquele lugar em que descansamos inconscientemente as mãos, sem pensar nas outras mãos que também pousaram ali pouco antes e que não sabemos o que aprontaram durante o dia. Os mesmos gestos inconscientes fazem com que nossa carteira de identidade seja manuseada pelo funcionário, examinada para ver se confere com a nossa cara e devolvida com o possível acréscimo de uma colônia de coronas em embrião. Sem falar nas máquinas, com os teclados que passam o expediente sendo digitados por pessoas cujo dedo indicador pode não ser de confiança —e dedos indicadores raramente são de confiança.

Esse mesmo dedo é solicitado a fazer o exame de biometria e, como o uso do gel deixa uma leve camada oleosa que impede o reconhecimento digital, o banco oferece uma pastinha que restaura a identidade das papilas. E quem protege essa pastinha de receber dedos premiados?

Por fim, é natural que, ao se despedir do gerente, num gesto automático você lhe estenda a mão ou vice-versa. Cuidado. Ele pode ser fã do Bolsonaro. E, como tal, sua mão será de alto risco.

Idosa sai de agência do Bradesco
Agência do Bradesco na rua Barão de Itapetininga, região central de São Paulo, fica vazia ao antecipar atendimento para aposentados do INSS - Clayton Castelani/Folhapress

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.