Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Obras-primas pela janela

A bossa nova foi reduzida a um repertório que todos gravam e regravam; mas tem muito mais

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O som da rua entrava pela janela quando, vindo de um ponto difícil de localizar, escutei “Chora Tua Tristeza”, de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini. E na ótima gravação original de Alayde Costa, de 1959. “‘Chora Tua Tristeza’?”, espantei-me. Foi um dos primeiros clássicos da bossa nova, logo encampado por Maysa, Carlos Lyra, Sylvia Telles, Walter Wanderley, Lalo Schifrin, muitos mais. Pois, para onde foi “Chora Tua Tristeza”, que, exceto por Caetano Veloso anos depois, ninguém mais cantou?

E, a exemplo deste, muitos dos primeiros sucessos da bossa nova estão esquecidos. O próprio Castro Neves teve abandonados os seus “Não Faz Assim”, “Menina Feia” e “Onde Está Você?”. Que fim levou “Tristeza de Nós Dois”, de Mauricio Einhorn, Durval Ferreira e Bebeto Castilho, que estourou em 1960 com Claudette Soares, foi gravada por todo mundo e depois deixada de lado? Quando Emilio Santiago a regravou, em 1978, as pessoas se reapaixonaram, mas não demorou e sumiu de novo, para nunca mais. E, falando em Durval, por que “Estamos Aí” continuou no ar, mas não “Chuva”, “Nuvens” e “E Nada Mais”?

Que fim levaram “Tempo Feliz” e “Amei Tanto”, de Baden e Vinicius; “Alegria de Viver”, de Luiz Eça e Fernanda Quinderé; “Samba da Pergunta”, de Pingarilho e Marcos de Vasconcellos; “Olhou Pra Mim”, de Ed Lincoln e Silvio Cesar; “Samba Toff”, de Orlan Divo; “Samba de Orfeu”, de Luiz Bonfá e Antonio Maria; “Amanhã”, de Walter Santos e Tereza Souza; “Disa”, de Johnny Alf; “Adriana”, de Roberto Menescal e Lula Freire; etc. etc.? Podemos abrir mão de tanta coisa boa?

Sim, Tom Jobim tem pelo menos 50 canções obrigatórias. Mas por que deixar de lado “Bonita”, “Olha Pro Céu” e “O Grande Amor”?

A bossa nova foi reduzida a um repertório básico que todos gravam e regravam. De vez em quando, uma obra-prima perdida entra pela janela e nos desperta para o seu fabuloso legado.

Fita de rolo, compactos e extended plays dos anos 50 e 60, com sucessos originais da bossa nova
Fita de rolo, compactos e extended plays dos anos 50 e 60, com sucessos originais da bossa nova - Heloisa Seixas

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