Ruy Castro

Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, é membro da Academia Brasileira de Letras.

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Ruy Castro

Mais falsas boas ideias

O ser humano é infalível: sempre erra pensando estar fazendo a coisa certa

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Ganhe quem ganhar esta Copa do Mundo, recomenda-se ao vitorioso trancar o troféu no cofre e só deixar uma cópia em exposição. Em 1970, quando o Brasil ganhou no México a posse definitiva da Taça Jules Rimet, a CBD, hoje CBF, fez o contrário. Anos depois, gatunos adentraram sua sede no Rio e levaram a taça autêntica, enquanto a cópia ficou a salvo no cofre. Ali os cartolas descobriram que tinham adotado a falsa boa ideia.

Pelé levanta a taça Jules Rimet, conquistada no México na Copa do Mundo de 1970 - Roberto Stuckert/Folhapress

Volta e meia registro aqui novas ocorrências desta infalível condição humana: a de errar pensando estar fazendo a coisa certa. Nos anos 1930, por exemplo, o governo adotou 25 de novembro como o Dia do Rádio. E como comemorá-lo? Com uma superprogramação especial? Não. Fazendo com que todas as estações do país passassem o dia fora do ar.

Já na inauguração da TV Tupi, em São Paulo, em 1950, Assis Chateaubriand pensou estar lançando um navio e deu com uma garrafa de champanhe na câmera. Infelizmente, a câmera não era um navio e se despedaçou. E eles só tinham duas.

Em 1940, o Rio decidiu construir um estádio gigante de futebol e pediu projetos aos arquitetos. O jovem Oscar Niemeyer apresentou o seu. Para ele, o lugar ideal seria a praça da Bandeira. A parte superior do estádio estaria no nível da rua, de modo que o gramado ficaria abaixo do nível do mar. Por sorte, rejeitaram-no: a praça da Bandeira sempre foi palco de tremendas inundações, por causa dos vários rios em seu subsolo. Tivéssemos ali um estádio e o Brasil seria campeão de waterpolo, não de futebol.

E, em 1961, o presidente Jânio Quadros, incapaz de governar com o Congresso, renunciou ao cargo. Era um blefe, porque ele esperava ser reconduzido ao trono "nos braços do povo". Mas o povo, estupefato, não se mexeu. O Congresso aceitou a renúncia e ele ficou chupando o dedo.

Neste caso, os presidentes aprenderam. É só comprar o Congresso e está resolvida a questão.

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