Leitores escreveram para discutir minhas perguntas de espírito de porco sobre a saga do Super-Homem ("Crer para ver", 19) —sobre como, por exemplo, Clark Kent conseguia trocar seu terno, gravata e sapatos pelo uniforme do herói dentro de uma cabine telefônica. Alegaram que isso era uma idiotia da objetividade e que, se nem os clássicos da literatura resistem a ela, imagine os quadrinhos. Concordo. Veja o caso de Batman.
Batman, na vida real o milionário e playboy Bruce Wayne, teve seus pais assassinados por gângsteres e jurou dedicar a vida a exterminá-los. Em 1938, quando ele foi criado por Bob Kane, isso fazia sentido —armados de metralhadoras, aqueles bandidos dominavam os EUA. Mas, com o fim da Depressão e a entrada dos EUA na Segunda Guerra, ficaram fora de moda. Na saga de Batman, no entanto, continuaram existindo, liderados por vilões de mafuá como o Coringa e o Charada. Admito que, em nome da ficção, tudo isso é aceitável. Mas como se explica o carro de Batman, o batmóvel?
Quando Batman era avisado de algum quiproquó em Gotham City, pulava no batmóvel e zarpava para a cena do crime. Nunca pegava engarrafamento? Achava logo onde estacionar? Nunca teve o batmóvel roubado? Como só rodava pela cidade em alta velocidade, nunca roçou a lataria num poste? Nunca foi obrigado a levá-lo no lanterneiro? E onde o abastecia? Usava a rede normal ou havia um posto secreto de gasolina no subsolo da mansão de Bruce Wayne? O batmóvel pagava IPVA?
E mais. O uniforme de Batman não precisava ser lavado de vez em quando? Bruce teria vários uniformes nos cabides enquanto o oficial secava no varal? Mas minha principal dúvida é como Batman enxergava se não tinha olhos. Pode conferir nos gibis: nunca se viram seus olhos por trás da máscara.
É verdade. Nenhuma história resiste a esse tipo de pergunta. Aliás, nenhuma história resiste a qualquer pergunta.
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