Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Vinicius Jr. pode ser a cola que vai juntar o Brasil na Copa

O atacante do Real ganhou o carinho e a defesa de praticamente toda a comunidade do futebol

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Seleção não é clube, e às vezes é mais difícil criar aquele vínculo que te impulsiona a torcer e sofrer em todos os jogos, mesmo em uma Copa do Mundo.

Com criança é mais fácil, é só dar uma tinta verde e amarela para pintar a guia da calçada e pronto, vai roer a unha na frente da TV desde a estreia até a final (ou eliminação… bate na madeira três vezes).
Mas com o torcedor maior de 18 a relação é um pouco mais dura e cheia de DR. Difícil dizer qual o ponto que leva à simbiose torcida-time nas últimas conquistas, mas todo mundo que torceu tem uma tese… ou três.

Em 1994, depois de alguns jogos sofríveis nas eliminatórias, teve a famosa partida com todo mundo entrando em campo de mãos dadas. Aquilo parece ter funcionado com o grupo, o "todos somos um" à la Os Três Mosqueteiros. E a torcida foi junto. O rival era só a Bolívia, mas a seleção venceu por 6 a 0 e manteve aquele espírito durante todo o Mundial do tetra.

Vinicius Junior durante partida pelo Real Madrid no Campeonato Espanhol
Vinicius Junior durante partida pelo Real Madrid no Campeonato Espanhol - Oscar Del Pozo - 18.set.22/AFP

No penta, teve a tal "família Scolari" —que a imprensa tenta importar o tempo todo: é "família Luxa", "família Mano", "família Scolari 2.0", "família Tite" etc. Qual foi o ponto crucial para unir aquela família? A exclusão de Romário na convocação final provocou um tsunami contra Scolari, e ele bancou. Quem ficou no grupo sentiu a responsabilidade do "papai" e fechou com ele. Todos do lado de cá curtiam a tal família muito unida (ao contrário das outras famílias que vieram depois). E juntos eles foram até o penta, com direito ao penteado mais horroroso de uma final já visto —sem mais detalhes.

E agora? Confesso que não torci loucamente pelas seleções das últimas Copas, que jogavam sob o salmo "Neymar é meu pastor e nada nos faltará". Sempre faltou. E o Neymar de 2014 e 2018 era um cara que dava vontade de beijar num lance e dar um cascudo na sequência.

Não era tão fácil torcer por Neymar. Era muito fácil se irritar com Neymar.

Eis que chega 2022. E o período pré-Copa parece diferente dos últimos anos. Neymar inicia a temporada menos júnior do que nunca, tentando se abster de confusões —entregou o posto de Narciso do seu time para Mbappé.

Os coadjuvantes de repente parecem mais brilhantes do que em outros tempos. Casemiro é o dono de qualquer meio-campo, temos os melhores goleiros de São Paulo a Liverpool, atacantes pululam a cada rodada e já começamos a ficar tristes por quem não será convocado —bem, temos problemas nas laterais, mas nada é perfeito; qualquer coisa põe um atacante na posição que deve dar certo.

E de repente apareceu o que pode ser a cola que vai juntar todo mundo. O triste, muito triste caso de racismo contra Vinícius Jr., o cara do gol do título da Champions do Real Madrid.

Um participante do programa espanhol pobre, muito pobre, El Chiringuito fez uma declaração racista (nem vale repetir) contra Vinícius antes de um clássico diante do Atlético de Madri. Racista e xenofóbica. E Vinicius não abaixou a cabeça, jogou bem como de costume, dançou e venceu.

Depois da partida, o pobre Chiringuito, atrás de mais audiência, voltou a carga e Vinicius foi chamado de "esportivamente imaturo".

O atacante do Real ganhou o carinho e a defesa de praticamente toda a comunidade do futebol no Brasil e de brasileiros espalhados pelo mundo (no time dele, não; o professor Carlo Ancelotti acha que não há racismo na Espanha).

Quem sabe o pobre Chiringuito não tenha acendido a chama do movimento que vai unir esse grupo (e a torcida) como nunca há dois meses da Copa? E com Vinícius Jr. sendo o destaque da seleção rumo ao hexa cheio de ginga? Minha torcida, desta vez, já ganhou.

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