Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Vítor Pereira e o milagre da sogra

'Não vou para canto nenhum' e 'corintiano para sempre' estão entre as frases desnecessárias de VP

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Entre muitos filmes que pareciam sempre reprisar na Sessão da Tarde quando este escriba não tinha aula, um campeão de audiência era "O Milagre de Fátima", sobre as três crianças portuguesas que testemunharam a aparição de Nossa Senhora de Fátima lá no início do século 20. A história era tão poderosa que conquistou até Hollywood, que produziu este filme em 1952, um clássico dos feriados religiosos por muito tempo.

Outro milagre parece em curso, também com origem portuguesa, talvez perto de Fátima —nada em Portugal é muito longe. A sogra de Vítor Pereira está se recuperando.

Vítor Pereira em jogo d Corinthians contra a Inter, em setembro de 2022
Vítor Pereira em jogo d Corinthians contra a Inter, em setembro de 2022 - Amanda Perobelli/Reuters

Para esclarecer, ninguém quer o mal da senhora sogra do professor. Que ela se recupere logo e pule as sete ondinhas no Ano-Novo (talvez em Copacabana). Mas usá-la como escudo/desculpa para não renovar com o Corinthians e semanas depois fechar com o Flamengo pegou mal.

No dia 14 de novembro, em entrevista à ESPN, VP disse se sentir "muito triste, queria continuar esse projeto mas não tem hipótese nenhuma. Não vou para clube nenhum, não vou para canto nenhum, eu vou para casa, tenho que ajudar a estabilizar um pouco o processo da doença da minha sogra."

No dia seguinte, encerrou uma nota de despedida com um "Corinthians uma vez, corintiano para sempre".

Parece que o "para sempre" do mister "sempre acaba" mais rápido do que uma arrancada de Mbappé —estamos contaminados pela Copa.

E, veja bem, o Flamengo não fez nada de errado em procurar por Vítor Pereira. No máximo, errou com Dorival Júnior. Vítor se despediu do Corinthians, estava de férias (não em algum hospital cuidando da mãe da mulher), foi procurado e aceitou. Reza a lenda que o acordo financeiro é parecido com o de Jorge Jesus.

O ponto é que VP aparentemente não entrou no top 10 honestidade ao explicar por que não quis continuar no Corinthians —que ofereceu praticamente um "auxílio-saúde vitalício" para a sogra do homem.

Também pegaria mal se o mister viesse a público e dissesse, "quero jogadores jovens, e vocês só me trazem velhacos. Não quero Paulinho, Gil, Fábio Santos e cia".

Ou, pior, se falasse que São Paulo não lhe agradou, mesmo com Abel Ferreira ganhando ali do lado título de cidadão paulistano. Talvez para VP a cidade fosse cinzenta demais, com muitas distâncias a percorrer, meio caótica, com muitas desigualdades. Certa vez, VP chegou a dizer, se referindo à capital paulista: "Você vai num restaurante chique e, 100 metros à sua frente, vê pessoas em situação de rua. Nunca tinha vivido isso nas outras cidades onde trabalhei" —não sabemos em que bairro mágico do Rio o professor vai morar.

Mas tem o pior. São Paulo está longe da praia. Vítor é de onda. Nasceu em Espinho, cidade litorânea que abriga o Espinho Surf Destination. Enquanto esteve no Corinthians, o professor chegou a pegar o carro e dirigir até Santos, só para ter um contato com o mar.

Com o Flamengo, seus problemas à beira-mar, de fato, acabaram. Assim como ele terá uma boa oferta de jogadores na janela de transferência, qualquer coisa mais cara que Rodinei e um pouco mais barata que Cristiano Ronaldo deve estar no radar do rubro-negro.

Resta apenas citar algum provérbio não bíblico ao presidente corintiano: "Irmão não se escolhe, mas se puder escolher, faça direito, meu filho".

E há agora uma grande curiosidade pela primeira entrevista coletiva de Vítor no Flamengo, quando provavelmente alguém perguntará, "Mister, como está a sogra?" —se bem que há o risco de participarem da entrevista apenas a FlaTV, FlaDelícia, FlaMejante, FlaJesus, inFlaNação e outros semelhantes.

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