Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 surfe

Paris foi uma festa

Nunca uma cidade viveu tão intensamente a competição olímpica

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Uma modalidade antiga e amada pelos parisienses foi deixada de lado durante as Olimpíadas: sentar nas calçadas dos cafés, com as cadeiras posicionadas de frente para a rua, observando o que se passa diante dos olhos em movimentadas avenidas, praças e bulevares.

No período dos Jogos Olímpicos, muitos dos mesmos cafés, bares e restaurantes, avessos a TVs em seu ambiente, deram um jeito de improvisar uma tela de qualquer tamanho. Os clientes deixaram de olhar para fora e miraram para dentro, para acompanhar as mais diversas modalidades pela TV, sempre com manifestações como "allez, les bleus, allez, les bleus", "oui, oui, oui" —em gritos de apoio— ou até puxar uma "Marselhesa" vez ou outra.

A imagem mostra um grande estádio cheio de espectadores, com uma apresentação no campo central. Há uma grande bandeira ou símbolo no centro do campo, e as arquibancadas estão repletas de pessoas. O céu está parcialmente nublado, e as luzes do estádio estão acesas, criando uma atmosfera vibrante.
(240811) -- PARIS, Aug. 11, 2024 (Xinhua) -- The closing ceremony of the Paris 2024 Olympic Games is held in Paris, France, Aug. 11, 2024. (Xinhua/Wang Peng) - Wang Peng/Xinhua

Paris reuniu o turismo de massa à massa de turistas de torcedores, e com uma dose generosa de tempero dos moradores parisienses. E de alguma forma, tudo isso funcionou em equilibrada comunhão.

Nunca uma cidade viveu tão intensamente a competição olímpica, colocando de maneira até ousada todos os seus principais predicados turísticos para trabalhar a favor dos Jogos.

Torre Eiffel com vôlei de praia, Praça da Concórdia com esportes urbanos, Grand Palais com esgrima, Ponte Alexandre 3º com triatlo, Esplanada des Invalides com tiro com arco, Montmartre em euforia com a passagem do ciclismo de estrada, Versailles com hipismo, Louvre na maratona —sem contar Roland Garros no tênis, com direito a quadra principal de Philippe Chatrier recebendo as finais do boxe.

A chamada Maratona para Todos (poucas horas depois da prova oficial), que colocou o percurso olímpico no alcance de 20.024 meros mortais, foi a cereja do bolo.

Sim, teve algum sofrimento. Algumas estações de metrô deixaram de funcionar durante os Jogos, itinerários de ônibus foram alterados, pontes tiveram a circulação fechada, passagens do transporte público praticamente dobraram de valor. Perímetros foram estabelecidos na cidade, limitando o vaivém de moradores às vésperas da competição.

Até a chuva, que estragou parte da cerimônia de abertura (para quem estava acompanhando in loco), ameaçou provas aquáticas e deixou o clima morno no início dos Jogos, foi apenas um pequeno susto.
Tudo foi deixado de lado depois do primeiro ouro francês, seguido da "Marselhesa", logo no dia seguinte à cerimônia de abertura.

Todas as arenas tinham excelentes indicações de transporte público e um número mais do que razoável de voluntários, prontos para ajudarem os perdidos olímpicos.

Paris ainda teve as celebrações fora das arenas. Um Parque dos Campeões foi erguido do outro lado da Torre Eiffel, para celebrar os medalhados dos Jogos em um momento mais descontraído e próximo dos torcedores. Na região central da prefeitura —o Hôtel de Ville— foi instalado o Terraço dos Jogos, com dois telões e várias atividades.

Dezenas de fan zones oficiais se espalharam pela capital francesa, e quase todo arrondissement tinha um cantinho com telão diante de uma praça para acompanhar as competições. Até o Castelo de Vincennes emprestou suas instalações para receber o público ávido por uma experiência olímpica a céu aberto, quase sempre em temperaturas para verão brasileiro nenhum botar defeito.

Apenas o uso do belo rio Sena para provas de triatlo e maratona pode entrar na conta de uma desnecessária teimosia da organização francesa. Era preciso ter acionado algum plano B. O rio caminha para a despoluição total, mas ainda não parecia totalmente pronto para receber competições —muitos atletas abriram mão de um treino ou reconhecimento das águas do Sena por precaução. A prova obviamente foi prejudicada.

Este escriba tem a impressão de que se algo similar tivesse acontecido em uma edição de Olimpíadas fora da Europa —digamos, em uma cidade como o Rio de Janeiro—, as autoridades esportivas mundiais estariam gritando até agora. Só palpite.

E foi curioso que na imagética cidade de Paris, a foto mais emblemática dos Jogos, pelo menos aos olhos dos brasileiros, tenha sido a de Gabriel Medina ao lado da prancha… no distante Taiti.

Agora dá para voltar ao café e relaxar um pouco olhando para a frente de novo. Um breve descanso antes do início da desafiadora Paralimpíadas, que começa em 28 de agosto. Até aqui, Paris foi uma festa.

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