“Aquela história não existe mais”, disse Galvão Bueno aos 28 minutos, quando a partida estava 0 a 0. Referia-se ao 7 a 1, como se fosse possível cancelar a eternidade.
Descartado um embate de times jovens na final olímpica de 2016, vencida pelo Brasil, a era pós-7 a 1 teve início oficial em Berlim. Começou bem para a seleção, mas isso não quer dizer que o fantasma da maior humilhação da história da equipe tenha sido exorcizado. O 7 a 1 é para sempre.
O que só valoriza a vitória do time de Tite. Onde e quando for que as duas seleções se cruzem, enquanto houver futebol, a inverossímil goleada no Mineirão estará presente como uma carga gigantesca de kriptonita no vestiário brasileiro.
Isso não pode ser anulado pela simples negação. Fantasmas são legião na paisagem simbólica do futebol. É assim que a mitologia do esporte roda.
O jornalista Paulo Perdigão levou 35 anos para elaborar seu sofrimento com a derrota brasileira na final da Copa de 1950, no Maracanã. Seu livro “Anatomia de uma derrota” —do qual o cineasta Jorge Furtado extraiu o curta “Barbosa”— é uma estranha flor de obsessão.
A fim de neutralizar o poder negativo do 7 a 1 para a autoestima da seleção será preciso jogar bola, partida após partida. E reconhecer que, no próximo jogo, a kriptonita estará lá outra vez.
É curioso observar como, no futebol globalizado de hoje, os estilos de Brasil e Alemanha, que já foram antípodas, se tornaram semelhantes. Não iguais, mas parecidos o bastante para que a diferença seja buscada em nuances.
Se esteve longe da excelência nesta terça, o Brasil foi crescendo ao longo da partida e chegou a dominar.
Demorou mais do que o normal, retardada pela interminável era Dunga, a chegada da seleção ao século 21 em que seus principais jogadores já atuavam. Mas ela chegou.
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