Shireen Mahdi

Economista principal do Banco Mundial para o Brasil e doutora em economia pela Universidade de Manchester (Reino Unido)

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A missão de conectar a Amazônia

Boa cobertura e qualidade de acesso são essenciais para a preservação do ecossistema e o desenvolvimento socioeconômico da região

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O futuro da Amazônia depende do cumprimento de dois objetivos inter-relacionados: preservação do ecossistema e desenvolvimento socioeconômico sustentável. Um elemento facilitador comum para ambos os objetivos é uma rede de internet universal, rápida, confiável e acessível. No entanto, mais de um terço da população amazônica ainda carece de acesso a serviços móveis, e apenas 22,6% dos domicílios têm conexão de internet de banda larga.

Isso precisa mudar. A cobertura e o acesso à internet podem abrir portas ao comércio eletrônico, à educação online e ao trabalho remoto, entre outros benefícios, o que ajuda a gerar empregos e aumentar a produtividade, a inovação e os investimentos.

A internet também é fundamental para que possamos monitorar os ecossistemas da floresta tropical; além disso, permite rastrear o desmatamento, a extração ilegal de madeira e os movimentos de espécies selvagens na região. As pesquisas científicas também se beneficiariam das informações obtidas e armazenadas online, o que levaria a uma melhor compreensão dos processos ecológicos da floresta tropical.

Imagem aérea da fronteira entre o Cerrado e a Amazônia em Nova Xavantina (MT)
Imagem aérea da fronteira entre o Cerrado e a Amazônia em Nova Xavantina (MT) - Amanda Perobelli - 28.jul.2021/Reuters

Entre os diversos motivos capazes de explicar a ausência de infraestrutura e o uso limitado da internet na região, dois se destacam. Em primeiro lugar, levar cobertura universal a um vasto território com baixa densidade populacional requer investimentos significativos com baixos retornos econômicos, o que tende a limitar a participação e interesse da iniciativa privada. Em segundo, a pobreza e as limitadas competências digitais da população local impõem obstáculos à utilização em massa da internet, especialmente nas áreas rurais e periurbanas.

Apesar disso, a missão de se criar uma Amazônia conectada pode decolar se aproveitarmos ao máximo os avanços tecnológicos atuais para eliminar essas lacunas de investimento.

Nos últimos anos, evoluções na tecnologia resultaram numa série de soluções alternativas para levar a internet a áreas remotas. Por exemplo, a conectividade por satélites geoestacionários e de baixa órbita está se tornando mais acessível para o consumidor final, embora os preços no varejo ainda sejam significativos.

As tecnologias tradicionais, como a fibra óptica, vêm sendo implementadas em ambientes não convencionais, como o projeto Infovia 01, que pretende instalar fibra ótica no leito do Rio Amazonas para, assim, conectar 3 milhões de pessoas em 11 municípios entre Santarém e Manaus. Projetos como esses adotam abordagens inovadoras, mas necessitam de capital privado e de um marco regulatório ágil para que possam ter sucesso.

A missão também precisa atrair o apoio de mais pessoas. Programas de capacitação digital são essenciais para realizar o pleno potencial dos aplicativos online. Essa capacitação permitirá que indivíduos naveguem eficazmente no mundo digital, permaneçam competitivos no mercado de trabalho e contribuam para um desenvolvimento mais inclusivo.

Programas que visem conectar pessoas com pouca ou nenhuma experiência devem vir acompanhados por elevadas salvaguardas de segurança cibernética e regras adequadas de proteção de dados, de forma a promover um uso mais seguro dos serviços e ferramentas digitais. No caso da Amazônia, uma consideração adicional é a preservação das normas culturais e sociais locais —especialmente de comunidades indígenas— de forma a minimizar eventuais impactos sobre suas normas e hábitos culturais.

É fundamental promover o envolvimento de comunidades indígenas desde o início de qualquer iniciativa de conectividade, primeiro para compreender a sua vontade de se conectar e depois garantir que a governança, os protocolos e as normas locais sejam respeitados. As consultas prévias também são fundamentais para identificar a melhor forma de a população local se beneficiar da conectividade e garantir que existem os recursos necessários para que isso aconteça.

Não há dúvida de que eliminar a exclusão digital constitui um desafio técnico, econômico e social complexo, que exige um esforço conjunto em vários níveis —ainda mais na Amazônia. Contudo, essa é uma peça fundamental do quebra-cabeça, capaz de fomentar a prosperidade da região. Logo, deve ser tratada como prioridade para a próxima década.

Esta coluna foi escrita em colaboração com meus colegas do Banco Mundial Luis Alberto Andres, líder do setor de Infraestrutura, e Niccolo Comini, especialista em Desenvolvimento Digital.

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